sábado, 29 de setembro de 2018

O exemplo vem de casa (lições sobre gastos)

Todos nós, em algum momento, já fizemos compras, seja de alguma roupa, carro, comida ou qualquer outra coisa que demandasse dinheiro para tal aquisição. E é interessante como isso tem tudo a ver com o que acontece na utilização dos recursos financeiros e gastos de um país. Alguém (que não seja uma criança ou doente mental) que ainda acha que dinheiro nasce em árvore precisa de um psiquiatra urgentemente.

Uma dona de casa é o melhor exemplo de alguém que sabe por em prática os conhecimentos econômicos sobre demanda, oferta, receitas, gastos e investimentos. O governo faria bem em seguir o exemplo que ela demonstra na utilização racional e consciente do seu próprio dinheiro. 

A dona de casa gere o seu lar como um empresário gere seu negócio. Ela sabe o que está faltando e o que precisa ser comprado. Ela faz uma lista dos itens básicos (limpeza, higiene e alimentos) a serem comprados e, de posse da lista, vai ao supermercado. Engana-se quem pensa que essa mulher sai colocando tudo no carrinho às cegas. Pelo contrário, ela analisa cada produto: se o preço está acessível, se compensa em comparação com outras marcas, se está no prazo de validade, se é possível levar mais de um etc. Ela acaba conhecendo o que é inflação sem nunca ter lido um livro de economia. Ela conhece na prática como a inflação intervém nos preços dos produtos e que inflação alta quer dizer menos poder de compra e, consequentemente, o carrinho não estará tão cheio.

Ela consegue racionalizar sobre o que é mais importante comprar para a casa, tentando não ultrapassar aquele limite de gastos que ela estipulou e, de preferência, que fique no mesmo patamar da compra passada. Mas ela sabe que nem sempre as compras terão o mesmo valor; que em uma determinada feira será preciso comprar produtos que não eram necessários na feira anterior (como os de limpeza e higiene, por exemplo).

Ao retornar de suas compras, a dona de casa contabiliza novamente o que foi gasto e o que foi adquirido. Com base nisso, ela já sabe o que lhe resta para a próxima feira ou para compras casuais no decorrer da semana ou do mês. A dona de casa sabe quão importante é possuir um limite para os seus gastos, haja vista que ela poderia adquirir produtos fúteis no lugar daqueles úteis, e isso seria prejudicial para o andamento de suas atividades no lar. 

Na microeconomia, são três os agentes estudados: famílias, empresas e governo. Todos os três se relacionam em diversos momentos. A empresa depende da mão-de-obra das famílias para a produção; em contrapartida, as famílias dependem da renda paga pela empresa devido ao trabalho exercido nela; o governo depende dos impostos pagos pelas empresas e famílias para manter o fornecimento de serviços públicos e o pagamento de seus funcionários (públicos). Na teoria, essa relação até funciona, mas na prática...

Empresas, assim como a família (a dona de casa do exemplo faz parte), procuram também limitar seus gastos o máximo que podem, a fim de não se prejudicarem, o que na maioria das vezes logram êxito. Já o governo, infelizmente, não toma como exemplo os seus vizinhos econômicos, no que diz respeito à utilização correta de suas receitas e, pior ainda, nos seus gastos. Se o governo gasta muito, analisa-se o resultado desses gastos. Mas se o governo gasta mal, ele já está condenado a sempre receber as críticas devidas.

Algumas pessoas, levadas por emoção, acabam não olhando com bons olhos quando se fala sobre um teto de gastos para o governo. Entretanto, muitos países já o adotam (e com perfeita razão). Dentre eles, estão Dinamarca, Estados Unidos e até nosso vizinho de continente - o Peru. Todos eles sabem que quando a despesa é maior que as receitas, o país pode entrar em recessão ou até mesmo moratória. É como uma pessoa que gasta mais do que o salário que ganha. Isso não pode ter um final feliz.

Em qualquer situação econômica, conter gastos ou limitá-los é uma medida segura e racional para a administração consciente. Tal como a dona de casa, quando o governo sabe o que está faltando, o quanto deve gastar e como deve preparar a sua lista (o governo colocar no papel o quanto será destinado para cada setor - educação, saúde, infraestrutura -, como e por quê), ele começa a utilizar a receita de bolo que qualquer pessoa que possui um montante (e que não é pródiga) faz diariamente.

Para aqueles que são contra o teto de gastos públicos, seria interessante fazer essa reflexão com o modo como administram as suas próprias vidas. Por isso que em política e economia, as análises devem ser racionais e não emotivas ou apaixonadas.

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