sábado, 22 de setembro de 2018

Manipulação acadêmica do senso crítico

Um dos problemas da juventude que está na faculdade é o não desenvolvimento do próprio senso de análises críticas sobre determinado tema. Professores têm repassado aos seus alunos que não se deve pesquisar ou estudar assuntos por conta própria. O professor é que sabe melhor do que o aluno o que ele precisa aprender e ler. O resultado é o que Thomas Sowell expõe em seu livro Fatos e Falácias da Economia, mais especificamente no capítulo sobre Fatos e Falácias Acadêmicos: "Os alunos que atravessam a faculdade sem nunca ter  confrontado uma visão de mundo muito diferente daquela do conjunto restrito de seus professores têm pouca oportunidade de desenvolver a própria capacidade de analisar argumentos conflitantes - como terão de fazer quando deixarem o mundo enclausurado do campus."

Para aqueles que já desfrutam do autodidatismo, é fácil perceber quando estão diante de alguém que é apenas um depósito de informações ou notícias. Este cidadão é aquele que acredita, de forma inicialmente inocente e depois cega, em tudo o que seu professor lhe ensina ou informa, e com base nisso, ele (o aluno), tenta reverberar o conhecimento limitado que aprendeu para todos com quem convive. Esse hábito pueril de aprender é o que tem sido a regra em grande parte dos cursos universitários, chegando a invadir mesmo o ensino básico e médio.

Um certo dia, ao ouvir uma jovem do curso de Nutrição expor algumas informações sobre alimentos com agrotóxicos, em sua conclusão da explanação ela fez questão de lembrar sobre uma lei que estava para ser alterada, de forma a beneficiar aqueles que utilizam tais defensivos químicos - o que para a comunidade de nutricionistas e ambientalistas seria afrontoso. Ela falou com propriedade que essa lei seria terrível para a população e esperava que alguém vetasse a sua promulgação. Em um dos momentos de tomada de fôlego, eu questionei se ela já tinha lido essa nova lei, para estar falando com tanta certeza sobre os pontos elencados. De bate pronto, ela disse não, mas que foi informada por uma professora e por aquilo que lera nos jornais (o resumo do resumo). Mas a lei mesmo, ela não leu. 

Ou seja, a nobre aluna é um exemplo do que grande parte da classe estudantil é nos dias de hoje: pessoas que se tornam em um celeiro do que professores e jornais propagam e que, muitos motivados pela luta de uma causa (seja ela ambiental ou social), não procuram escutar o pensamento contrário ao delas, conhecer as visões opostas, para aí sim poderem formar uma verdadeira opinião sobre os fatos.

Alguns podem dizer que fazer isso para todo assunto é inviável, porém o fato de ser inviável não quer dizer impossível - e o aprender sempre é possível. O médico que só entende ou lê sobre saúde é tão medíocre quanto o advogado que só lê sobre assuntos jurídicos. Da mesma forma, o aluno de música que só se aprofunda em temas artísticos é tão medíocre quanto o aluno de engenharia que só sabe fazer cálculos e prefere viver numa bolha acadêmica. É a mediocridade do ensino que tem feito tantos alunos se tornarem presas fáceis para o professor militante de uma causa.

Para o professor militante, é muito mais desejável ter uma classe que não questione do que a do tipo "bereana", e caso algum aluno possua um pensamento contrário ao do professor, aquele muitas vezes será vítima de perseguição, chacota e deboche por parte do docente. É comum ver isso quando um professor é crítico do capitalismo e morre de amores por Marx. Boa parte de suas aulas serão enviesadas para que ele pregue aos alunos sobre os males do capitalismo e os benefícios da luta de classes, por mais que fique tudo na teoria e ele não consiga dar um único exemplo onde os sistemas que possuíam o marxismo como raiz (dentre eles, socialismo e comunismo) deram certo. Mas vai o aluno, influenciado por um pai ou algum parente sobre os escritos de Mises ou Hayek, confrontar o professor sobre os absurdos e os contraditórios ensinados, pra ver se ele (o aluno) não será agora alguém marcado para repetir o ano.

Falando nisso, é muito interessante que a universidade - que deveria ser o lugar do debate e do confronto de ideias - tenha se tornado o local do pensamento único e totalitário. E qualquer que se desvie dessa forma de ensino, logo enfrentará a "fúria dos deuses" da docência e do Diretório Estudantil. Um aluno negro que seja contra o sistemas de cotas será muito mais ridicularizado e agredido do que um aluno branco que pense o mesmo. Uma mulher que seja contra os movimentos feministas dentro da universidade será muito mais enxovalhada do que um homem que pense o mesmo. Um aluno homossexual que se posiciona contra a luta vitimista fomentada por movimentos LGBT dentro da universidade será muito mais ofendido do que um aluno heterossexual que pense o mesmo.

O fato é que a universidade tem formado bolhas em seu próprio ambiente, onde só é permitido um único tipo de pensamento. O lugar onde deveria haver tolerância, face ao diferente, tornou-se um dos ambientes mais intolerantes para o livre pensar e a liberdade de expressão. E são essas universidades e professores que tem parido alunos que acreditam em tudo aquilo que o docente ou o jornal lhes fala simplesmente porque possuem um aparente sinal de propriedade e conhecimento no que expressam.

A autoeducação e o autodidatismo passa longe desses ambientes. Não é à toa que o decoreba tem pautado se o aluno está preparado ou não para as provas e seminários a serem apresentados. E ainda dizem que somos o "país da educação". Pelo contrário, está mais para "deseducação".  

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