terça-feira, 18 de setembro de 2018

Cultura do diploma


Volta e meia vemos pessoas almejando um diploma universitário para fazer aquele concurso que paga mais, ou para dar um incremento no salário atual, ou para apenas exibi-lo a quem quer que apareça perguntando o que ela faz da vida.

É importante frisar que vivemos uma cultura ao mesmo tempo medíocre e acomodativa, em que possuir um diploma traz o status de ser alguém, independente do que seja feito com o conhecimento adquirido - se é que se adquiriu algum.

No Brasil, por não haver tanto espaço para o empreender ou o desenvolvimento de atividades individuais e autônomas e que se pague bem, muitas pessoas vislumbram o funcionalismo público como a salvação de todos os problemas. E então se dedicam a uma carreira que pague 67% a mais do que se paga no setor privado. O resultado compensa o esforço, ainda que o trabalho não tenha nada a ver com o curso de formação na faculdade.

É comum ver pessoas que, mesmo já concursadas, fazem um curso universitário para granjear um cargo público que pague mais do que o atual. E daí, perpetua-se a cultura do diploma com o objetivo de ascender na carreira pública.

Há jovens e adultos que entram no curso sem planejar o que fazer depois que se graduarem. Muitos se graduam, mas por não ter segurança no mercado de trabalho, acabam perpetuando sua estadia na faculdade por mais alguns anos, através de mestrados, estendendo a doutorados. O resultado é que esse estudante se reserva ao conhecimento puramente acadêmico, sem nunca ter colocado em prática no mercado o conhecimento adquirido. Muitos se tornam professores da mesma faculdade em que se graduaram e se doutoraram; ensinam alunos jovens sobre as teorias do que outrora estudaram, mas que nunca conseguiram colocar em prática no mundo fora do campus. Mas o importante - na cabeça deles - é que todos devem chamá-los de doutores.

A cultura do diploma traz alienação e mediocridade a quem não sabe por que está fazendo um curso de graduação. O jovem se aliena por achar que um canudo na mão o torna mais superior do que o que não tem. Ele pode se tornar boçal e soberbo, querendo dar carteirada - algo bem comum quando o curso é Direito ou Medicina - em qualquer lugar onde seus desejos não possam ser imediatamente atendidos. É interessante, pois a mediocridade pode vir tanto da soberba como da suposta humildade.

O estudante se torna medíocre quando confunde a condição de apenas ter um diploma como o fim último de sua vida e, por isso, não procura se especializar na área ou não continua seus estudos (mesmo que de forma descompromissada). É o medíocre quem utiliza o diploma apenas para fazer um concurso daqueles que é aberto para qualquer área de formação e cujo cargo não fará com que ele ponha em prática o conhecimento adquirido do curso em que se formou. É o medíocre quem diz que ter diploma é ser alguém na vida. O medíocre fará de tudo para dar um valor a mais ao diploma conquistado e não ao conhecimento que obteve.

A cultura do diploma tenta atingir qualquer pessoa com aquela famosa pergunta: "o que você faz da vida?". A pergunta espera uma resposta voltada mais para a atuação prática do curso em que se graduou do que em relação ao interesse sobre a importância da atividade que a pessoa executa. Não importa se a pessoa se formou no curso X ou Y, mas agora é dona de casa e educa os filhos no lar. Não. Não é isso que agrada os ouvidos do que pergunta. O que interessa é se a pessoa está trabalhando como contadora em uma empresa ou economista em uma corretora ou como gestor de contratos em uma multinacional. A cultura do diploma é medíocre por valorizar mais o empregado de uma grande empresa com todos os seus títulos e certificados do que o pai de família que recusa uma promoção - tendo que trabalhar mais horas - para ficar com sua esposa e educar seus filhos.

A cultura do diploma é uma praga que lhe diz o que você deve fazer sem levar em consideração o por que fazer. A cultura do diploma não é uma coisa boa nem tampouco exemplar, já que lhe trata apenas como um depósito de regras e normas. A cultura do diploma é o combustível dos medíocres, portanto não seja mais um.

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