quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Mazelas do messianismo político

É impressionante como a vontade de se ter "pai dos pobres" ou "salvadores da pátria" tem conduzido o pensamento político no Brasil. A cada eleição, esse espírito vem à tona na mente de alguns eleitores, e nesse aspecto, não importa se é o analfabeto do interior do estado, o trabalhador classe média ou, às vezes, até os mais abastados. Essa sede em nomear alguém como o seu tutor ou "padrinho" é o que tem causado o populismo que levou ao poder ditadores, como Getulio Vargas, ou amigos de ditadores, como Lula. 

Esse comportamento de dependência paternal é o que move a esquerda não só no Brasil, mas em cada parte do mundo onde figuras semelhantes chegam ao poder. Cada vez que alguém toma para si a alcunha de "agente da mudança", parece ativar algo na mente do eleitor que o faz quase que instantaneamente se dobrar e acreditar em tudo que o indivíduo lhe propõe. Promessas como "Tirar todos da miséria e da pobreza" são como música para os ouvidos de pessoas que se encontram em situações minguantes. O problema com esse tipo de promessa é que não é revelado como isso será feito, mas o que vale é conseguir a confiança das pessoas. E prometer o impossível - citando Thomas Sowell - é o que políticos mentirosos sabem muito bem como fazer.

Programas como o Bolsa Família, por um lado, ajudaram pessoas em situações de extrema pobreza a saírem dessa condição. No entanto, o que deveria ser um paliativo acabou se tornando em regra e "direito básico". Essa ideia de entregar o dinheiro na mão das pessoas a fim de elas mesmas decidirem o que  fazer com ele é o que faz liberais simpatizarem com o programa. No entanto, e essa é a grande crítica que o próprio Milton Friedman fazia a esse tipo de política pública, é que tal programa deveria ser um estímulo para que as pessoas pudessem se reerguer, encontrar um emprego, e aos poucos sair desse assistencialismo. No Brasil, os políticos populistas julgam tal programa pelo número de pessoas que entra e não pelo número que sai. Na verdade, o programa se torna uma moeda de troca para esses políticos, barganhando com uma população cada vez mais enganada e dependente, transformando-as em seus cabrestos eleitorais.

Com isso, tais pessoas tornam-se presas fáceis para aqueles que se arrogam como "pai dos pobres" e, claro, essas pessoas acabam entrando em uma dívida com o dito cujo, onde não lhe serão permitidas questionar, criticar ou pensar por conta própria, caso tais ações entrem em confronto com a mentalidade dominante do "padrinho". Se assim agir, a pessoa será vista como a ovelha negra do grupo, podendo ser isolada ou perseguida, a depender do nível de influência que ela tiver no meio onde convive.

Infelizmente, algumas pessoas gostam e preferem que as coisas sejam assim, com alguém provendo a elas o essencial, sem necessitarem conquistar ou adquirir pelo seu próprio esforço e mérito. Tais pessoas desejam que o Estado ou os próprios políticos paternais sejam para elas como babás, e se para manter tal condição for necessário continuar tirando de quem tem mais ou trabalha para adquirir, elas não pestanejarão em concordar que seja feito. Pois no fundo, essas pessoas já se transformaram no devoto do político "salvador da pátria" e qualquer ameaça a ele será tomada pela pessoa como uma blasfêmia.

O que países com maior liberdade econômica possibilitam aos seus habitantes é igualdade de oportunidades em vez de igualdade de resultados. Na igualdade de resultados, os planejadores fazem o impossível para que todos estejam na mesma faixa de bem-estar, independente se para isso for necessário tirar de quem tem mais e dar para quem não tem, que é o que acontece na redistribuição de renda. Para os planejadores, fazer com que todos ganhem o mesmo prêmio é sinônimo de "justiça social", ainda que poucos se importem se isso é "justo" para aquele que se esforçou mais que os outros. Na igualdade de oportunidades, há uma disposição em que todos tenham a mesma chance em alcançar o seu próprio objetivo (e não um objetivo comum para todos), fazendo com que a pessoa seja recompensada proporcionalmente ao esforço produzido, sem a necessidade de prover o mesmo prêmio a outras que não se esforçaram como ela. 

Simplificando, na igualdade de oportunidades, todo o lago está disponível a qualquer pessoa a fim de que elas pesquem o seu próprio alimento, sem a necessidade de dependerem do fruto dos outros, enquanto que na igualdade de resultados, apenas uma pessoa pesca e as outras ficam só olhando (segurando suas varas e iscas), aguardando que aquele que está pescando consiga ter sucesso e ele seja obrigado a repartir a sua conquista com todos que só estavam olhando a pescaria. 

Alguns acham que egoísmo e individualismo é o que causa mais desigualdade. Ora, mas é um pouco de egoísmo e individualismo que faz com que as nações se desenvolvam, o crescimento econômico aconteça e, consequentemente, todos possam atingir seus objetivos - ainda que tais objetivos sejam desiguais. Steve Jobs e Bill Gates tiveram que abdicar de muito lazer e convívio social para criarem seus respectivos negócios. Será que esse tipo de egoísmo ou individualismo fez mal para a sociedade? Claro que não, é só observar a revolução que seus inventos e negócios propiciaram ao mundo. Uma pessoa que sai das brenhas do interior onde mora, e passa a estudar, torna-se um empresário de sucesso, envereda no mercado de ações e cria um curso que ensine outras pessoas a vencer assim como ele, pode ser acusada de egoísmo por não retornar ao seu lugar de origem ou por não apoiar o candidato que sua família apoia? Claro que não, ela se tornou uma vencedora saindo do zero. Mesmo com todas as dificuldades, ela não se portou com vitimismo ou autocomiseração (que é a atitude dos narcisistas e amantes do assistencialismo), antes, enfrentou de cabeça erguida as adversidades que se colocavam diante dela. Muitas pessoas acabam esperando a oportunidade cair dos céus em vez de elas mesmas criarem a oportunidade. O sertanejo que mora na roça, em vez de esperar o político comprar o voto dele com um vale-gás ou cesta-básica, poderia conseguir sementes para plantar, cultivar, colher e vender na feira mais próxima ou trocar por outros alimentos com o vizinho mais próximo - isso é só um exemplo de que não se pode esperar que a solução venha de promessas, mas sim das ações e criatividade desempenhadas pela própria pessoa em dificuldade. A dependência política tem causado mais males do que a falta de oportunidades, haja vista que - usando a frase de um certo empresário americano - tais políticos "quebrarão as suas pernas e lhe darão muletas só para dizerem o benefício que eles te causaram".

Quando ouço pessoas defendendo políticos e partidos corruptos, com a desculpa de que os tais são perseguidos por que "mataram a fome dos pobres", só posso imaginar que tais pessoas não estão interessadas em mudar de vida realmente, mas sim continuar dependendo de alguém que lhes forneçam o seu pão de cada dia, ainda que não se perguntem como isso está sendo feito (se é por meio de corrupção ou não). E quando o senso crítico dá lugar ao paternalismo cego, gera-se fanatismo e devoção política - pragas que alimentam ainda mais a condição de miséria, não apenas de provisão nutricional, mas principalmente educacional e intelectual. E é desse tipo de gente que o político populista, que se arroga como "pai dos pobres", gosta e procura. Na cabeça dele, nada melhor que dar de cara com um ingênuo para cooptar e corromper. Esse é o triste retrato da nossa história.


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