Todos nós, em algum momento, já fizemos compras, seja de alguma roupa, carro, comida ou qualquer outra coisa que demandasse dinheiro para tal aquisição. E é interessante como isso tem tudo a ver com o que acontece na utilização dos recursos financeiros e gastos de um país. Alguém (que não seja uma criança ou doente mental) que ainda acha que dinheiro nasce em árvore precisa de um psiquiatra urgentemente.
Uma dona de casa é o melhor exemplo de alguém que sabe por em prática os conhecimentos econômicos sobre demanda, oferta, receitas, gastos e investimentos. O governo faria bem em seguir o exemplo que ela demonstra na utilização racional e consciente do seu próprio dinheiro.
A dona de casa gere o seu lar como um empresário gere seu negócio. Ela sabe o que está faltando e o que precisa ser comprado. Ela faz uma lista dos itens básicos (limpeza, higiene e alimentos) a serem comprados e, de posse da lista, vai ao supermercado. Engana-se quem pensa que essa mulher sai colocando tudo no carrinho às cegas. Pelo contrário, ela analisa cada produto: se o preço está acessível, se compensa em comparação com outras marcas, se está no prazo de validade, se é possível levar mais de um etc. Ela acaba conhecendo o que é inflação sem nunca ter lido um livro de economia. Ela conhece na prática como a inflação intervém nos preços dos produtos e que inflação alta quer dizer menos poder de compra e, consequentemente, o carrinho não estará tão cheio.
Ela consegue racionalizar sobre o que é mais importante comprar para a casa, tentando não ultrapassar aquele limite de gastos que ela estipulou e, de preferência, que fique no mesmo patamar da compra passada. Mas ela sabe que nem sempre as compras terão o mesmo valor; que em uma determinada feira será preciso comprar produtos que não eram necessários na feira anterior (como os de limpeza e higiene, por exemplo).
Ao retornar de suas compras, a dona de casa contabiliza novamente o que foi gasto e o que foi adquirido. Com base nisso, ela já sabe o que lhe resta para a próxima feira ou para compras casuais no decorrer da semana ou do mês. A dona de casa sabe quão importante é possuir um limite para os seus gastos, haja vista que ela poderia adquirir produtos fúteis no lugar daqueles úteis, e isso seria prejudicial para o andamento de suas atividades no lar.
Na microeconomia, são três os agentes estudados: famílias, empresas e governo. Todos os três se relacionam em diversos momentos. A empresa depende da mão-de-obra das famílias para a produção; em contrapartida, as famílias dependem da renda paga pela empresa devido ao trabalho exercido nela; o governo depende dos impostos pagos pelas empresas e famílias para manter o fornecimento de serviços públicos e o pagamento de seus funcionários (públicos). Na teoria, essa relação até funciona, mas na prática...
Empresas, assim como a família (a dona de casa do exemplo faz parte), procuram também limitar seus gastos o máximo que podem, a fim de não se prejudicarem, o que na maioria das vezes logram êxito. Já o governo, infelizmente, não toma como exemplo os seus vizinhos econômicos, no que diz respeito à utilização correta de suas receitas e, pior ainda, nos seus gastos. Se o governo gasta muito, analisa-se o resultado desses gastos. Mas se o governo gasta mal, ele já está condenado a sempre receber as críticas devidas.
Algumas pessoas, levadas por emoção, acabam não olhando com bons olhos quando se fala sobre um teto de gastos para o governo. Entretanto, muitos países já o adotam (e com perfeita razão). Dentre eles, estão Dinamarca, Estados Unidos e até nosso vizinho de continente - o Peru. Todos eles sabem que quando a despesa é maior que as receitas, o país pode entrar em recessão ou até mesmo moratória. É como uma pessoa que gasta mais do que o salário que ganha. Isso não pode ter um final feliz.
Em qualquer situação econômica, conter gastos ou limitá-los é uma medida segura e racional para a administração consciente. Tal como a dona de casa, quando o governo sabe o que está faltando, o quanto deve gastar e como deve preparar a sua lista (o governo colocar no papel o quanto será destinado para cada setor - educação, saúde, infraestrutura -, como e por quê), ele começa a utilizar a receita de bolo que qualquer pessoa que possui um montante (e que não é pródiga) faz diariamente.
Para aqueles que são contra o teto de gastos públicos, seria interessante fazer essa reflexão com o modo como administram as suas próprias vidas. Por isso que em política e economia, as análises devem ser racionais e não emotivas ou apaixonadas.