domingo, 1 de novembro de 2020

Teoria e prática nem sempre é causalidade

"Ah, mas isso só funciona na teoria!" Quantas vezes nós já não ouvimos esse tipo de afirmação, ou às vezes até nós mesmos já não nos flagramos falando isso? Claro, há muitas coisas que, quando sua teoria é aplicada nos mínimos detalhes, mostram-se falhas e ineficazes. Destas, infelizmente, há pessoas que ainda não conseguem se demover da ideia de implementação e, por isso, continuam numa empreitada utópica.

Tais teorias vão desde sistemas econômicos, formas de governo, políticas públicas a métodos de agricultura etc. Mas talvez algo que volta e meia seja tachado como um "discurso que pode até ser bonito na teoria, mas na prática a coisa é diferente" são determinadas lições ou instruções extraídas da Bíblia, como, por exemplo, casamento, criação de filhos, administração do lar e das finanças, incluindo até mesmo o desenvolvimento da maturidade cristã.

Em muitos casos, a Bíblia nos dá orientações de como procedermos bem e corretamente para que Deus seja glorificado. Um casamento que se pauta pelas Escrituras deve ter como princípio basilar o fato de que o marido crente é responsável pela vida espiritual da esposa, e que negligenciar tal tarefa pode trazer consequências sérias no seu relacionamento com Deus.

Por mais que leiamos os textos que Paulo nos instrui a como viver o casamento, é certo que nem sempre agimos da forma como gostaríamos e, por isso, não é surpresa quando acontece de nosso casamento não refletir tão bem o relacionamento espiritual entre Cristo e sua noiva, a igreja. Quando isso acontece, é imprescindível sermos conduzidos de volta ao prumo do que é o verdadeiro casamento, e isso pode ser feito tanto por irmãos sábios que nos aconselham pela Palavra como também pelo estudo de livros que tratem sobre o tema.

Geralmente, quando um casamento está em frangalhos e começamos a instruir um dos cônjuges sobre a necessidade de se respeitar determinados valores estabelecidos por Deus, a resposta que mais ouvimos é: "Isso tudo é muito bom na teoria, mas na prática não funciona [ou não funcionou] no meu casamento." Esse tipo de pensamento é bem comum entre aqueles que esperavam desenvolver um modo de vida derivado literalmente das Escrituras, do tipo "Se eu fizer isso, acontecerá aquilo..." ou "Se eu agir assim, obterei tal coisa...", como se fosse um tipo de relação direta de causalidade.

Mas essa forma de pensar é um equívoco, já que nem toda passagem bíblica instrutiva ou orientativa funciona por esse prisma direto de causa e efeito. Por exemplo, o fato de Salomão nos deixar como provérbio que se ensinarmos nosso filho o caminho em que ele deve andar, quando ele for mais velho não se desviará dele (cf. Pv 22.6), não é uma relação causal, mas sim de probabilidade -  a possibilidade de que o nosso filho opte por caminhar errante pelo mundo é maior quando não o ensinamos o caminho correto no qual ele deve andar e permanecer, ou seja, a instrução bíblica nem sempre é dogmática, mas sim algo que nos mostra qual a melhor forma de proceder para obter determinado fim desejado, não sendo esse fim necessariamente o único possível.

Esse tipo de raciocínio de causa e efeito pode se tornar bem problemático no seio da igreja, ao ponto de podermos nos tornar intolerantes com qualquer ensino que, primeiro, denuncie a nossa falha e, segundo, nos aponte o jeito certo de agir. A tendência é tomarmos como parâmetro apenas a nossa experiência sobre determinado fato e passarmos a desacreditar ou desconsiderar qualquer outra experiência que seja divergente da nossa, que tenha tido resultados positivos e saudáveis, enquanto a nossa se mostrou débil e negativa.

É por isso que, volta e meia, somos pegos de calças curtas com esse pensamento falacioso acerca da teoria e prática que vivenciamos. Enquanto não compreendermos que a teoria é o nosso fator balizador para as nossas atitudes, e que se a desprezarmos seremos mais facilmente levados ao comodismo por não querer mudar e a um tipo de negacionismo prático, continuaremos com atitudes de desqualificação perante ao que de fato dá certo quando feito com os olhos no Altíssimo e não em nossos métodos ou em nós mesmos.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Você se torna aquilo que adora

É curioso como nossos corações podem ser facilmente cooptados por ídolos dos mais variados. Mesmo aquilo que achamos não ser perigoso ou causar dano algum pode se transformar mais cedo ou mais tarde num pequeno totem. Quando menos se espera, distanciamo-nos do Caminho que conduz para Deus e passamos a perseguir tolas miragens como se fossem um cálice sagrado.

Se já não bastasse toda essa degeneração espiritual, surpreende-nos quando vemos pessoas que defendem com unhas e dentes a permanência desses ídolos em seus corações, ainda que ineptamente. E aí pode ser qualquer coisa, desde o emprego, dinheiro, filhos, cônjuge, serviço na igreja etc., podendo descambar na torcida pelo time de futebol e, claro, política.

Curiosamente, por mais que o indivíduo possua todas as atitudes que configuram idolatria, ainda assim ele não se vê como idólatra. É por isso, por exemplo, que por mais que exortemos um irmão dizendo que ele está se excedendo na defesa de alguma ideologia, partido ou político, ainda assim ele não reconhecerá que se encontra em idolatria.

Perceba que não é errado nos indignar com o que consideramos injusto ou falsa acusação. A questão é o que pauta a nossa reação frente a tais injustiças. A nossa reatividade é baseada nos conselhos de jornalistas, influenciadores e comentaristas pagãos (ainda que se identifiquem como cristãos) ou é pautada pela vida de oração, leitura da Bíblia e esperança em Deus? A resposta que dermos revelará por quem somos guiados e a quem adoramos.

Não é à toa que o salmista diz que tanto os que produzem ídolos como os que confiam neles tornam-se semelhantes ao objeto idolatrado (cf. Sl 115). Ou seja, nossas atitudes, comportamentos e posturas passam a ser ditadas pelo que adoramos, pelo que idolatramos, enfim, pelo que ocupa o nosso coração. Para aquele que se diz cristão e se encontra nessa situação, o só saber disso já deveria ser motivo para contrição.

No fundo, o que nos move (ainda que irrefletidamente) quando alimentamos tal idolatria é também o fato de querermos ser idolatrados. Quando enfatizamos para nossos filhos, por exemplo, que eles devem escolher uma profissão que os faça ganhar muito dinheiro e terem uma "boa" vida, o que estamos querendo de fato é que eles reconheçam e, consequentemente, adorem a nós pela vida que propiciamos a eles (seja por dá-los tudo do bom e do melhor ou por sacrificarmo-nos para que eles atinjam os objetivos pretendidos), e não Deus, como o verdadeiro provedor da família.

Toda idolatria, no final, se caracteriza por roubar a glória de Deus. Como já dito anteriormente, mesmo as coisas que consideramos menos importante ou de menor valor podem vir a se transformar num ídolo, basta que, tal como fazemos com um animal de estimação, o alimentemos, o protejamos e o criemos para que ele se torne o reflexo daquilo que somos.

Aquilo que ocupa o nosso coração dirá o que, de fato, adoramos, e vice-versa. Por isso é necessário diariamente que substituamos qualquer resquício de idolatria a deuses falsos pela verdadeira adoração ao "Amado na nossa alma".

domingo, 6 de setembro de 2020

Como a masculinidade bíblica faz falta atualmente!

De uns tempos pra cá, demonstrar masculinidade tem se tornado algo considerado vergonhoso e ofensivo, inclusive pelos próprios homens. Se na vida longe de Deus isso tem levado a um caos social, na vida perto de Deus isso tem causado sérios problemas de identidade.

Muito dos equívocos que os homens cristãos exprimem perante a igreja devem-se a uma incompreensão do papel e relevância de si mesmos, como imagem de Cristo, tanto no círculo eclesiástico como para além dos muros da comunhão do corpo de Cristo.

O comportamento do homem bíblico deveria ser pautado por responsabilidade, fidelidade a Deus e polidez social, sabendo que tais virtudes são construídas ao longo da caminhada cristã. Entretanto, o que mais se vê é egocentrismo, pedantismo e preciosismo.

A masculinidade bíblica dá lugar à infantilidade pagã, levando consigo a um estado onde quem deveria estar num processo de amadurecimento dá mostras de ser apenas um adulto mimado, exibindo comportamentos que mais giram em torno de um Acabe do que de um Josué.

A forma como nos dirigimos ao outro revela o que está conduzindo os nossos corações. Se somos guiados por desejos de grandeza ou notoriedade, é certo que dificilmente toleraremos qualquer dano cometido contra nós, mesmo que vise o nosso bem diante de Deus e do corpo de Cristo. 

A masculinidade bíblica tem sido deixada de ser perseguida por nós, homens cristãos, pois preferimos ser tratados mais com mimos e bajulações do que mandamentos e bem-aventuranças. Isso acaba deteriorando as relações e, consequentemente, deturpando o conceito do que é o verdadeiro crescimento espiritual.

Se por um lado nós entoamos cânticos à Jesus, dizemos servi-Lo e O consideramos como Salvador de nossas vidas, por outro lado, nós demonstramos que não pretendemos tomá-Lo como exemplo do que é ser um homem de verdade. Com isso, caímos no engodo de adorar a Jesus e querer ser reconhecido por ele, mas sem a necessidade de ser formado em nós a Sua imagem.

O homem cristão precisa entender que toda atitude sua perante à própria igreja, no trabalho, na família, na escola ou universidade, entre amigos, é para mostrar ao mundo qual o padrão bíblico de masculinidade requerido por Deus.

Nem sempre iremos mostrar eficazmente esse padrão, e quando isso acontecer, conquanto possamos nos desmotivar ou desanimar, que possamos ter resiliência vinda do próprio Espírito de Deus para continuarmos buscando exibir tal padrão a fim de o nosso Salvador receber a glória devida.

Frise-se que possuir masculinidade bíblica em momento algum é "querer ser mais homem" do que o irmão, o que seria interpretado como demonstração de macheza, mas sim querer possuir os aspectos de respeitabilidade, sabedoria e responsabilidade.

Tais aspectos são formados em nós à medida que reconhecemos a nossa limitação, fraqueza e dependência do Senhor. Isso não anula nossos temperamentos e personalidades, pelo contrário, estes se tornam subservientes àqueles.

Talvez o que haja em alguns homens cristãos seja menos masculinidade bíblica do que se espera, o que não os torna menos homens. Em outros, talvez haja demonstrações de virilidade mais intensas, o que também não os torna mais homens. O que se espera de alguém que busca um padrão verdadeiro de masculinidade bíblica é o meio termo entre esses dois lados.

Quando tomarmos como referência o Homem Salvador a fim de nos tornarmos homens bíblicos, então dificilmente continuaremos nos vitimizando diante das situações que não saem como desejadas, assim como não mais procuraremos ser bajulados como forma de aceitação social.

Quando a masculinidade bíblica de fato for compreendida, almejada e frutificar em nossas vidas, aí sim teremos superado o complexo de homens adultos mimados. Até lá, a síndrome de Peter Pan será algo que continuaremos a batalhar contra, conviver com e tolerar naqueles que insistem em ser tratados como meninos que pensam como meninos e agem como meninos (cf. 1Co 13.11).

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A falta de educação financeira na vida cristã: uma análise


Por mais que, como cristãos, dizemos ser servos de Cristo, anunciando o seu Reino, declarando as boas-novas de salvação e entrando em comunhão com os santos, infelizmente ainda padecemos de muitos equívocos na nossa vida prática, que advêm muitas vezes de compreensões errôneas de lições das Escrituras. Um desses equívocos diz respeito à mordomia, ou, falando a linguagem moderna, Educação Financeira.

E aqui não é preciso ser um economista ou financista para entender que se não administrarmos bem nossas finanças, é certo dizer que passaremos por maus bocados.

Alguns comportamentos de nós, cristãos, dificultam o exercício da boa mordomia. Podemos citar dois como exemplo: (i) confundir contentamento com comodismo e (ii) gastar tudo que ganha é melhor do que multiplicar as próprias finanças. Discorramos um pouco sobre cada um.

No primeiro caso, nota-se um equívoco que torna a vida cristã infértil, pois quando subentendemos que o estar contente é sinônimo para não movermos nenhum músculo para melhorarmos o ambiente à nossa volta, então caímos no dilema enganoso da preguiça. 

Quando Paulo diz que aprendeu a estar contente em toda e qualquer situação (Fp 4.11-13), ele não diz isso como uma ode à acomodação, mas sim em reconhecimento à sua dependência de Deus. Em outra carta (2 Ts 3.10-12), Paulo diz que aquele que não trabalha não deveria também fazer parte dos ganhos e lucros (o comer à mesa). O Pregador, no livro poético, pede a Deus o necessário para viver a cada dia (Pv 30.8,9), revelando contentamento e não acomodação. 

Contentamento difere e muito de comodismo, pois este é retroalimentado pela preguiça. E preguiça é um dos assuntos que a Bíblia denuncia como algo que causa ojeriza ao próprio Deus, tendo em vista Ele não ser preguiçoso, por conseguinte, requer o mesmo daqueles criados à sua imagem e semelhança.

No âmago da igreja cristã, é comum vermos uma enorme gama de pessoas que, por persistirem nesse equívoco de compreensão entre contentamento e comodismo, recusam sugestões sobre investir parte de seus ganhos no mercado financeiro, crendo que Deus será mais glorificado nelas à medida que elas fizerem um voto de miserabilidade, em vez de desfrutarem de uma vida de ambição (por mais que essa ambição seja piedosa, e não pecaminosa).

Muitas pessoas se esquecem que podem ser também canais de benção financeira para outras que passam por necessidade. Infelizmente, esse tipo de mentalidade acomodada conduz a uma forma de parasitismo na fraternidade cristã, pois por confundir contentamento com comodismo, o irmão utilizar-se-á de um fideísmo baseado na dependência de Deus para se colocar sempre como alguém que as outras pessoas terão que ajudar, em vez de ele mesmo poder sair da sua letargia para também ajudar outros. Na igreja, deve haver pessoas necessitadas, e não parasitas.

No segundo caso - gastar tudo o que ganha em vez de multiplicar as próprias finanças -, o testemunho fica ainda pior, pois a pessoa se torna o típico "filho pródigo", que procurará aproveitar a vida ao máximo, erradamente pensando que viver dessa maneira é glorificar a Deus, já que demonstra confiança de que Deus irá prover o pão do próximo dia, não sendo necessário, então, administrar com seriedade e boa-fé os recursos que Ele dá.

Esse falso conceito esbarra justamente na parábola dos talentos(Lc 19.12-27; Mt 25.14-30), onde o senhor beneficia e congratula os servos que lhe foram fiéis - multiplicaram os proventos que o seu senhor os havia incumbido de administrar -, enquanto dá a sentença de maldição ao servo que preferiu não negociar o que lhe foi encarregado pelo seu dono.

Curiosamente, atrelamos a passagem apenas ao aspecto do serviço na obra de Cristo, o que de fato é o sentido primário, mas esquecemo-nos que fomos criados inteiros por nosso Senhor. Não somos seres compartimentados; toda a nossa vida deve agir uniforme e congruente. Se Jesus tira um exemplo da relação econômica de uma sociedade para ensinar sobre fidelidade, obediência e responsabilidade, então além de sermos ensinados sobre o aspecto espiritual do serviço, somos também ensinados sobre o que ele requer de nós no âmbito pessoal na administração financeira.

Esconder dinheiro, em vez de investi-lo, ou gastá-lo prodigamente são faces de uma mesma moeda, a moeda da má mordomia. E, infelizmente, muitos cristãos têm peregrinado por esse caminho de negligência financeira.

Concluo com um adendo prático. Não é preciso ser rico ou ter uma soma absurda de dinheiro para começar a multiplicá-lo ou ajudar outras pessoas. A boa mordomia diz mais a respeito de O QUE fazer e COMO fazer do que COM QUANTO fazer. Sendo assim, alguém que é autônomo, por exemplo, pode multiplicar suas posses de uma forma a ajudar outros que passam por dificuldade, basta apenas boa vontade, conhecimento básico de que não se deve gastar com futilidades e possuir um padrão condizente com a sua situação atual.

Se não somos bons mordomos, é certo que caímos no erro de não vivermos o cristianismo que confessamos. A educação financeira começa por reconhecermos que Deus nos dotou de capacidades intelectuais e técnicas para administrar o que Ele nos deu, de uma forma que redunde em glória a Ele e ajuda ao próximo. Nos tornarmos ricos ou pessoas com grandes recursos é uma consequência que poderá vir caso sejamos bons mordomos, mas que é totalmente ofuscada quando o nosso interesse é em sermos fiéis ao nosso Deus, que é o Dono do ouro e da prata.


quarta-feira, 22 de julho de 2020

O amor cristão não descarta a assertividade

Um dos maiores desafios para o cristão é ser fiel ao seu Senhor. E isso passa não apenas por exercer sua rotina diária e constante na oração e leitura da Palavra, mas principalmente por ser uma testemunha de Cristo na vida pública, perante estranhos e irmãos de fé. O crente é chamado a exercer um papel ativo tanto no corpo de Cristo como na sociedade fora do templo. Não há como ele ser dicotômico, tendo em vista sua inteireza como imagem do Criador.

Para ser fiel e obediente ao seu chamado, o cristão precisa se tornar mais e mais submisso ao seu Salvador. O caráter do Filho molda cada vez mais o caráter do crente (ou, pelo menos, deveria). Com isso, as qualidades que o nosso Salvador possuía, enquanto encarnado, deve ser também o alvo almejado pelo cristão. O próprio Jesus, no início do capítulo 5 de Mateus, deu indícios de quais seriam os atributos que seus discípulos deveriam possuir. As bem-aventuranças são o retrato que se espera de todo aquele que se diz servo de Deus. Mansidão, misericórdia, coração pacificador, humildade. Jesus apresenta à multidão o que Deus requer do seu povo.

Não são qualidades que nascem da noite para o dia nem mesmo pelo mero fato de alguém já nascer dentro de um lar evangélico. A todo aquele que passa pelo processo de conversão, tais requisitos deverão ascender na sua caminhada de fé. Muitos de nós chegarão ao fim da caminhada sem desfrutar de todos esses atributos, no entanto, o que devemos ter em mente não é que para entrar no gozo do nosso Senhor deveremos possuir, tal como nosso Salvador, todas essas qualidades, mas sim que devemos perseverar na busca por desenvolvê-las, conquanto provavelmente ainda falharemos nesse processo e um ou outro requisito ficará subdesenvolvido.

Dito isso, é preciso lembrar que todo indivíduo possui temperamentos diferentes, e que tais temperamentos serão moldados pelo próprio Deus a fim de atingir os seus propósitos. No corpo de Cristo, apesar de todos possuirmos uma só fé e uma só esperança, há crentes melancólicos, sanguíneos, fleumáticos e coléricos. Não há como fugir dessas definições, apesar de elas por si mesmas não serem suficientes para definir o ser humano, principalmente se ele for alguém convertido a Jesus. Também não é correto falar que só há apenas uma dessas características no indivíduo, na verdade, o que acontece é que todos possuímos tais características, mas que, em cada um, terá uma mais pungente e que mais se destaque na vida humana, sendo esta a que mais receberá influência do Espírito do Senhor a fim de ser reequilibrada, tornando o homem um ser com domínio próprio.

Quando entendemos isso, passamos a exigir menos que o irmão se torne como nós, pois nós não devemos ser o parâmetro para ninguém, apesar de termos de ser testemunhas de Cristo no pensar e no proceder. Entretanto, o alvo deve ser orientarmos as pessoas para que busquem se parecer mais com Cristo e não com nós mesmos, tendo em vista que é dele que elas aprenderão a ser mansas e humildes. Nós, como testemunhas de Cristo, somos apenas o reflexo de um espelho ou de uma sombra. Se queremos que as pessoas sejam mais parecidas com Cristo, então é imperativo que elas olhem para o Autor em vez dos personagens.

Curiosamente, quando nos relacionamos no corpo de Cristo, vemos que há uma confusão sobre o que é possuir domínio próprio, falar com mansidão, ser humilde etc. Geralmente, isso parte de uma falta de compreensão sobre os mandamentos de Jesus e os relatos de sua vida. Com isso, compartimentamos certas atitudes do Mestre, chegando até mesmo a dogmatizar aquilo que não deveria ou rechaçar aquilo que é também essencial.

Por exemplo, quando olhamos para o ato de Jesus expulsar os cambiadores do pátio do templo com um chicote na mão, alguns de nós podem encontrar nisso uma incoerência no seu discurso sobre humildade, mansidão, amor e pacificação. No entanto, quando nos aprofundamos no estudo, vemos que a atitude de Jesus se coaduna sim com seu discurso, pois um atributo que o Mestre sempre fez questão de deixar claro foi o zelo pela reverência devida ao Pai.

Quando Jesus diz que devemos buscar em primeiro lugar o reino do céu e a justiça, ele está dizendo que o que deve exercer primazia na vida do ser humano é o se achegar mais e mais a Deus, e não desperdiçar nosso tempo com coisas temporárias, fúteis e desnecessárias para o crescimento na fé e dependência do Senhor. Buscar o reino do céu é se apropriar cada vez mais de uma mentalidade que se importa com o avanço do Reino, que não tolera o pecado (apesar de agir com amor para com o pecador) e que se dispõe como instrumento divino no corpo de Cristo.

Mas isso só é possível quando possuímos verdadeiro zelo pela causa do evangelho, pela fé em Jesus e para que Deus seja reverenciado dignamente por aqueles que dizem ser seus filhos, pois se os filhos não derem a importância devida a isso, tampouco os que não são filhos darão. Na verdade, Deus requer mais dos seus filhos do que dos que não o são.

Infelizmente, hoje esse zelo tem sido interpretado no corpo de Cristo como legalismo, o que até é compreensível em alguns casos, mas prejudicamos a caminhada de fé quando generalizamos qualquer postura mais contundente ou rigorosa como meramente uma atitude farisaica. Talvez por isso, condutas pecaminosas ou apenas defeituosas têm sido mais toleradas do que confrontadas de forma apropriada. E confrontação tem sido uma atitude bem negligenciada em muitas igrejas, mesmo que tenha sido uma prática exercida pelo próprio Cristo, tanto com os seus discípulos como com às multidões que o seguiam, e ensinada também pelo próprio irmão Paulo em suas cartas.

Ser assertivo é uma característica que faz parte do confronto ou exortação genuína. Muitos irmãos confundem isso com agressividade, o que demonstra apenas um equívoco, mas que se não for esclarecido, redundará sempre em omissão e passividade diante de futuros erros. A assertividade tem muito mais a ver com uma postura decidida, direta e resoluta. Curiosamente, por englobar tais posturas, o indivíduo que fala assertivamente acaba sendo mal visto na sociedade, e até mesmo no corpo de Cristo, justamente por que as pessoas acabaram se acostumando no seu dia a dia com condutas mais voltadas para a bajulação, lisonjas e pacifismo (obs.: o pacifista, adepto do pacifismo, é diametralmente oposto ao pacificador. Enquanto um quer a paz a qualquer custo, o outro sabe que por trás de toda busca por paz há um custo).

Algumas pessoas acabam tendo também uma visão reducionista dos temperamentos. Para elas, só existem dois espectros de condutas: numa ponta está o de fala dócil e “humilde”, e na outra o de fala agressiva e orgulhosa. Para essas pessoas, não há níveis ou escalas entre esses dois extremos. Se em determinado momento, você se comunica de uma forma tempestiva e assertiva, a pessoa reducionista automaticamente colocará você no lado dos arrogantes. Ela não compreende que cada caso deve ser tratado conforme a relevância que se merece. Mesmo com crianças, há momentos em que falamos com docilidade e amabilidade e há momentos em que falamos com mais firmeza e seriedade.

Mesmo o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (trazendo à memória novamente o episódio da expulsão dos cambistas) tinha formas diferentes de se comunicar, dependendo da gravidade do assunto, do momento específico e das pessoas a quem a mensagem se destinava. Com alguns, ele era mais simples e dócil, com outros, firme e resoluto, e ainda com mais alguns, contundente. Mas sempre sua conduta retratava o amor e a mansidão característicos a ele.

Curiosamente, no corpo de Cristo parece haver uma inclinação para um tipo de suavização do amor. Parece que para muitos irmãos, o amor só é retratado se a comunicação com o irmão faltoso for preponderantemente repleta de rodeios e divagações a fim de não sinalizar que, de fato, se está fazendo uma exortação. É como se, na concepção dessas pessoas, o amor não pudesse habitar onde há a assertividade e clareza, quando, na verdade, os relatos bíblicos sobre confrontação demonstram justamente o contrário. É só lembrarmos de Natã com Davi, Moisés e Arão, Daniel e Nabucodonosor, até chegarmos ao próprio Jesus com Pedro e os demais discípulos.

Se quisermos ser bíblicos e verdadeiros discípulos de Cristos, precisamos compreender que assuntos sérios devem ser tratados seriamente, e que o amor é retratado por meio da confrontação mansa, porém assertiva, do problema. Não podemos exigir que sermos salvos da queda no penhasco por um leão seja semelhante a ser salvo por um gatinho. A pata do rei-felino é muito mais pesada que a do bichano, pode até ser que cause alguns arranhões, mas é certo que a maneira dele trará muito mais garantias de voltarmos a viver tranquilos, embora convivamos com as marcas daquilo. Podemos não ter gostado da maneira como ele nos salvou, mas o que importa é que ainda nos encontramos vivos e vigilantes para não nos aproximarmos novamente de qualquer abismo.

Como corpo de Cristo, temos que deixar de ser hipersensíveis quanto ao que ouvimos e mais objetivos quando falamos. Sem isso, nos tornaremos cristãos que estarão mais preocupados em temer e/ou agradar os homens do que a Deus. Seremos tolerantes ao erro e intolerantes à correção do erro. Enfim, teremos transformado a disciplina evangélica numa mera sessão terapêutica de autoajuda e a igreja num novo safe space, onde ninguém pode exortar ou aconselhar o outro, por achar que só o “amor” superficial resolve tudo. Crer que nos convertemos a um “Jesus” bacana fatalmente nos levará a agir como um banana. Entretanto, sinceramente, nosso Jesus é infinitamente mais do que aquilo (bacana) e requer de nós incomensuravelmente mais do que isso (agir como um banana).

sábado, 27 de junho de 2020

O perigo de transformar mandamentos em puro legalismo – o caso do quinto mandamento

Volta e meia nos deparamos com situações conflitantes na nossa vida cristã. A escolha entre fazer o certo e o errado é confrontada pela orientação da lei bíblica. Não é de surpreender quando nos pegamos, tal como os fariseus, agindo mais por legalismo do que por coerência reflexiva. E, assim, acabamos exigindo que aqueles que possuem a fé bíblica vivam uma vida baseada mais na religiosidade dos mandamentos do que no raciocínio libertador da graça. Tomemos como exemplo o quinto mandamento: “Honra a teu pai e tua mãe(...).” (Êxodo 20.12).

Esse mandamento é muito utilizado, de forma ressentida e inconsequente, por diversos pais irresponsáveis, abusadores emocionais ou tirânicos, a fim de convencer os filhos de que são eles que agem errado por não realizarem todos os desejos de seus progenitores (ou por não seguirem todos os seus mandados) de uma maneira praticamente irrefletida e cega.

Curiosamente, o mandamento para honrá-los não lhes dá um cheque em branco para agirem com seus descendentes da forma como bem quiserem, achando que o simples fato de haver uma relação pai-filho já é suficiente para que o mandamento seja cumprido à risca. Há outros versículos que balizam como deve ser a atitude dos pais para com seus filhos. Colossenses 3.21 (“Pais, não irritem seus filhos, para que eles não se desanimem”) é um deles. Apesar de o versículo anterior (v.20) orientar os filhos para que “obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor”, voltamos a questionar se isso é dar um cheque em branco para os pais agirem com seus filhos como bem lhes der na telha, sem se preocuparem com os danos que isso causará a eles. Creio que não.

Um pai deveria ter como referência de paternidade o próprio Deus Pai, na forma sapiencial como Este lida e cuida de sua criação. E um filho deveria possuir como referencial o próprio Filho de Deus (Jesus Cristo), na maneira como Este se relaciona com o Pai, na sua submissão e entrega aos propósitos sábios do Pai para a redenção e consumação. É sempre bom recordar que tomá-Los como orientação não é esperar que todos os atos no relacionamento humano pai-filho automaticamente sejam perfeitos, de um para com o outro – afinal, ainda estamos neste mundo, sofrendo as intempéries do próprio mal que o circunda –, mas isso não deve ser motivo para descartar tal referencial. O que Jesus requer de nós é mais perseverança na caminhada do que de fato perfeição irrestrita.

Outra passagem que até abrange esses dois versículos anteriores é Efésios 6.1-4 (“Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. ‘Honra teu pai e tua mãe’, este é o primeiro mandamento com promessa: ‘para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra’. Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.”).

Aqui é notória a responsabilidade que os pais devem ter para com seus filhos: criá-los na instrução e conselho do Senhor. Alguns poderiam dizer que a honra devida, então, só deveria importar se a família for toda de crentes – pais e filhos. No entanto, não é bem assim. Mesmo que só o filho seja crente, enquanto os pais não, ainda assim é dever dele obedecer a tal mandamento do honrar, mesmo que não tenha sido criado na instrução e conselho do Senhor. O que podemos questionar é se esse filho tem de obedecer a mandados que afrontam claramente sua vida cristã, como, por exemplo, o pai obrigar o garoto a perder a virgindade num bordel quando completar 18 anos, ou dar o primeiro gole no copo de cerveja, ou não contar para sua mãe sobre o adultério do pai etc. Creio que também nesses casos a obediência cega ao quinto mandamento não se aplica.

Há uma situação em que se enquadra também aqueles tipos de pais que são conhecidos como abusadores emocionais. Geralmente são os que se utilizam de comportamentos emotivos, beirando o vitimismo e autocomiseração muitas vezes, para pleitearem determinadas condutas e posturas dos filhos. E quando estes não atendem à insistência, os progenitores logo apelam para o cumprimento cego do mandamento.

Digamos que, por exemplo, uma filha vai se casar, e o seu irmão não dá a mínima para ela e tampouco para o seu futuro cunhado. Pelo contrário, o irmão passa a denegri-los e ridicularizá-los para toda a família. E por mais que a irmã, assim como o noivo, procurem-no para pedir que ele pare com tais atitudes, então, ao não obter sucesso, chega uma hora em que ela clama a seu pai para que ele possa interceder na situação. Surpresa, a irmã ouve de seu pai que o irmão não cometeu erro nenhum, pelo contrário, ele diz ao pai que foi a irmã e o cunhado quem estavam falando mal dele. O pai então toma as dores do filho e se coloca totalmente indiferente e distante de sua filha e genro. Essa relação se tornou agora fragilizada. A filha então passa a se dedicar ao seu relacionamento, tornando-se também indiferente à família de origem, já que seu pai não agiu de forma sábia. Depois de um tempo, o pai planeja visitá-la, mas faz esses planos querendo levar o irmão dela, mesmo esse irmão nunca se desculpando pelo mal-estar que causou e tampouco se mostrando arrependido. Ela, então, até tolera que o pai a venha visitar, mas sem o irmão, enquanto este não pedir formalmente perdão e reconhecer o erro que cometeu. O pai, então, ao ver que isso não vai acontecer (e continuando ainda a proteger o filho) começa a se vitimizar perante os parentes e os antigos amigos da filha, forçando, com isso, que ela, então, possa ir visitá-lo de qualquer jeito, mesmo a situação ainda sendo totalmente fragilizada e, no momento, irreconciliável por conta do mal estar causado pelo irmão e da falta de sabedoria do pai.

A questão que levantamos é: A filha (que agora se dedica à sua nova família, com seu marido) está desonrando o pai por não querer visitá-lo? Se, com tudo o que foi exposto, ainda assim respondermos sim, então isso só mostra que nossa mentalidade, que dizemos ser cristã, está mais encharcada de legalismo farisaico do que raciocínio coerente.

O que acontece é que muitos se atentam ao simples cumprimento de um preceito como se fosse isso o que torna alguém cristão ou não, sem levar em conta todo o contexto, e, assim, tomam o assento de juiz e, se possível, carrasco. Muitos pais, por exemplo, que são líderes de igrejas possuem lares desequilibrados, em flagrante delito com a orientação de “governarem bem sua própria casa e terem seus filhos sujeitos a si...ter filhos crentes que não sejam acusados de libertinagem ou de insubmissão” (1Tm 3.4; Tito 1.6), mas nem por isso deixam de pastorear suas igrejas ou conduzir seus ministérios, ainda que tendo criado filhos no Senhor, estes tenham preferido seguir o caminho do mundo. Já imaginou se fôssemos aplicar, a quem almeja as funções de bispo, presbítero e diácono, o legalismo farisaico dos pais que exigem honra a qualquer preço, levando em consideração se realmente os filhos dos postulantes são, de fato, crentes que não são acusados de todo tipo de comportamento irresponsável na escola, na vizinhança ou na própria igreja? Creio que muito pastor e líder teria que ser deposto de seu cargo.

Gary Kinnaman, em seu livro Crendices de crentes, sintetiza bem o perigo do legalismo: “Pode-se ser teologicamente correto e religiosamente compulsivo sobre obediência às regras – e se perder no resto.” Ou seja, é provável que quando damos muita ênfase para que determinadas leis bíblicas sejam obedecidas de forma cega e irrefletida, estejamos mais interessados em aplacar as exigências do nosso próprio ego, e não de realizar a vontade de Deus. E é nisso que muitos pais, cristãos, têm se equivocado quando requerem o cumprimento irrestrito de seus filhos ao quinto mandamento sem, contudo, eles mesmos refletirem se estão agindo de uma forma que realmente mereça honra e reverência.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Basta a cada dia o seu mal


Com todo o avanço da tecnologia e da ciência nesses últimos dois séculos, outra coisa também se “desenvolveu” com mais rapidez na sociedade: a ansiedade. Com isso, não quero dizer que só agora é que esse tipo de emoção desvirtuada veio à tona, haja vista que os relatos bíblicos de mais de 5.000 anos atrás atestam que o excesso de preocupação e cuidados para com a vida já estavam presentes naquela sociedade antiga. Prova disso foram as atitudes de Sara com Abraão ao não esperar o cumprimento da promessa de um filho, optando por gerar uma descendência fora do casamento. Moisés, com sua atitude temerosa em ser o portador da mensagem de libertação do povo, também demonstrou leves traços de uma ansiedade que sufoca e que tolhe a coragem para enfrentar as adversidades diante de si.

De fato, muitos desses irmãos do passado passaram por tais situações sem saberem o que de fato estava acontecendo psicologicamente consigo mesmos. A palavra que a Bíblia usa para diagnosticar essa preocupação exagerada quanto ao futuro chama-se pecado. E tem muito mais a ver não com o fato de apenas sermos surpreendidos temendo o que irá acontecer no amanhã, mas sim por esquecermos (ao menos por um instante) que o controle sobre o futuro não está em nossas mãos. Sara pecou por não confiar na promessa dada pelo anjo do Senhor, já que confiar na promessa é abandonar o controle que aparentemente está em nossas mãos. Quando agimos persistentemente como se o amanhã fosse uma consequência direta e única do que fazemos hoje, estamos sim pecando contra Deus. Tiramos Deus do banco do motorista e O colocamos no porta-malas, substituindo-O por nós mesmos na condução de nossas vidas.

Conquanto hoje a psicologia moderna possa tratar a ansiedade e seus transtornos como um tipo de doença emocional, ainda assim os cristãos não devem se esquecer que ela é tanto uma consequência da Queda como também as suas erupções num momento ou outro de nossas vidas nos causa outros males (“um abismo chama outro abismo”). O ponto que quero destacar não é que o fato de sermos ansiosos ou estarmos ansiosos é uma prova de falta de fé. (A maioria de nós conhece muitos irmãos que sofrem (ou já sofreram) desse tipo de mal emocional, conquanto demonstrem uma fé que, se possível fosse, transporia montes). A ansiedade na verdade não causa a falta de fé, antes a abala, a desestabiliza e em muitos casos a equivoca. O assunto que quero abordar é acerca das consequências que uma definição de status ou temperamento como meramente “ansioso”, beirando a acomodação da condição, acaba por gerar indivíduos vitimistas em vez de lutadores.

Alguns dos mais importantes pregadores da Bíblia no passado passaram por momentos de oscilação emocional. Lutero e Spurgeon talvez sejam os casos mais emblemáticos. Forte, avassaladora e muitas vezes incapacitante, ambos foram surpreendidos pela depressão e tiveram que lidar com ela até o fim de suas vidas, mas permanecendo no front dessa guerra interna, guerreando contra si mesmos. Algo curioso é que boa parte dos nossos antepassados também passaram por situações semelhantes de desequilíbrio emocional, numa época cuja mentalidade de hoje atribui equivocadamente como uma vida fácil simplesmente por (supõe-se) não se ter as “preocupações” que se tem hoje. Esse é um pensamento errôneo, já que não se leva em consideração que em cada época há os seus prazeres e dissabores, e, consequentemente, em cada um deles há a variável-gatilho para a preocupação exagerada quanto ao dia seguinte.

Por exemplo, em nossos dias é dada uma grande ênfase em garantir uma estabilidade futura, e nessa estabilidade está embutido o desejo de se ter uma casa própria, possibilidade de trocar o veículo anualmente, realizar viagens, dar aos filhos uma boa educação etc. Mas para se “garantir” tudo isso, o indivíduo moderno crê piamente que exaurir-se no trabalho vale a pena, ainda mais se, depois de conquistar todas essas coisas, ele puder dizer para si mesmo: “Tudo isso é resultado do MEU esforço e dedicação!”. O indivíduo moderno não percebe que ele demonstra estar no controle de sua própria vida, já que (palavras dele) tudo foi conquistado com o seu próprio braço. Com base nessa sua própria experiência, ele acaba supondo que nossos antepassados não eram tão preocupados com o dia futuro, já que não havia algum cuidado sobre viagens, bons colégios ou veículos. Era puro campo, cavalos e charretes.

No entanto, os antepassados conquanto não tivessem inquietações semelhantes às que temos hoje, ainda assim suas preocupações giravam em torno de: manter suas casas protegidas de ladrões e animais selvagens (o homem da casa assumia o caráter de protetor e guardião de sua família); ao saber da notícia de gravidez, havia uma expectativa se o bebê nasceria bem (a medicina era primitiva e não havia exames tão específicos como os que se tem hoje – o médico se limitava a apenas auscultar a grávida); os alimentos eram mais escassos etc. Por mais que hoje analisemos nossos antepassados de uma perspectiva autorreferente, ainda assim eles possuíam as suas ansiedades e preocupações da vida.

Aqui faz bem fazermos algumas considerações. Deus permite ao ser humano planejar prudentemente o que fará no dia seguinte, no entanto, o que Ele não tolera é o planejamento audacioso, egocêntrico e autorreferente. Qualquer planejamento deve levar em consideração que a consecução do que foi planejado só acontecerá se for da vontade do Senhor e se estiver condizente com Seus planos. Mas você pode perguntar: Como podemos saber se o que estamos planejando faz parte da vontade do Senhor a fim de não cairmos no erro da mania por controle? Espiritualmente falando: por meio da oração diária, apresentando diante de Deus suas limitações, lutas, temores e autorreferência, pedindo a Ele que o auxilie a vencer tais adversidades. Ser humilde para receber conselhos e críticas de pessoas que o conhecem são bastante úteis também para saber se o que você planeja é conveniente e justo, e não oriundo de um pensamento ou comportamento ansioso.

Jesus, em Mateus 6, nos orienta sobre o dever de não nos preocuparmos com o que haveremos de comer, beber ou vestir no dia de amanhã, já que Ele mesmo é quem provê tudo o que nós necessitamos. Ele provê o que nós precisamos, e não o que queremos. Quando o ser humano se preocupa exageradamente em acumular mais e mais riqueza com o propósito de garantir estabilidade à sua vida, ele inevitavelmente pode acabar perdendo de vista aquilo que é mais precioso para si mesmo, que é o seu relacionamento com Deus. Por isso que, na parábola do homem rico (cf. Lucas 12), Jesus chama esse homem de tolo porque ele se preocupou tanto em apenas aumentar suas posses e riquezas que acabou esquecendo do que era verdadeiramente importante: a salvação de sua própria alma.

A ansiedade que nos acomete sobre o que irá acontecer daqui a pouco tem esse poder de nos desvirtuar do Caminho, de tirar os nossos olhos do Alvo verdadeiro. É como quando fazemos compras naquelas lojas de departamento (estilo Lojas Americanas). Geralmente entramos para comprar um confeito, mas ao nos dirigirmos para o caixa, entramos naqueles corredores estreitos onde de cada lado há outras ofertas que nos saltam os olhos. Elas têm a função de nos fazer comprar mais do que precisávamos – muitas vezes nem fazia parte dos nossos planos. E, assim, em vez de pagarmos apenas pelo item de nosso desejo inicial, acabamos nos comprometendo financeiramente mais do que o previsto por algo que entrou na lista de desejos, mesmo contra a nossa vontade. Assim é a ansiedade: ela nos desvia do foco necessário de nossas vidas que é Jesus. Ela nos apresenta coisas que são contra a nossa vontade, mas que se tornam aparentemente necessárias para o nosso viver. Não demora muito para que aquilo que era aparentemente necessário torne-se essencial, em seguida, importante, e logo mais, vital. Dessa forma, a fé que temos no Salvador acaba sendo pouco a pouco desencaminhada do seu propósito real.

Há um problema que muitos enfrentam no que diz respeito à ansiedade que é o fato da apropriação do transtorno. Depois que a pessoa se desequilibra emocionalmente, caso não sendo tomada as medidas cabíveis para o enfrentamento desse “pecado-doença”, ela acaba se apropriando daquela condição, passando a se ver a partir de então como alguém ansioso. Essa condição torna-se agora parte de sua característica humana (ao menos é o que ela acredita), não demorando para ela se apresentar diante dos outros como uma pessoa ansiosa. Ela não mais se utiliza da expressão “luto contra a ansiedade”. Não! Ela basicamente entregou os pontos, deixou que a ansiedade tomasse conta de seu intelecto, personalidade e identidade. Por isso que para muitos que sofrem de ansiedade, eles já não mais demonstram vontade em querer superar tal condição ou continuar lutando contra ela; preferem tranquilizar suas consciências ao melhor estilo Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim e eu sou mesmo assim...”.

O indivíduo que sofre de ansiedade “exagerada” (falar isso é quase uma redundância, já que ao pé da letra ansiedade significa preocupação exagerada) tende a continuar com seu comportamento de autorreferência, beirando muitas vezes o egocentrismo, já que se alguém procura orientá-lo ou encorajá-lo a continuar lutando contra o que o acomete, a tendência dele será ou superestimar sua própria crise – dizendo que é difícil (senão impossível) superá-la ou que só quem passou por ela alguma vez na vida entende de fato o que ela é – ou subestimá-la – e, nesse caso, entra muitas vezes o “negacionismo” do que ele está passando, que acaba demonstrando não reconhecer que precisa da ajuda de outros para enfrentar sua luta.

Quando o indivíduo superestima a ansiedade, ele pode acabar caindo naquilo que o psiquiatra Theodore Dalrymple chama de sentimentalismo tóxico, cuja pessoa, por internalizar aquela condição de ansiedade, descamba num comportamento vitimista diante dos outros. No entanto, curiosamente apesar de ela demonstrar esse vitimismo, no fundo ela não quer ser ajudada a superar sua condição. O que ela quer de fato é apenas uma plateia para se sensibilizar do seu sofrimento. Não demorará muito para que ela se torne dependente emocionalmente dos outros, tendo em vista a incapacidade e deficiência permanente que ela atribui ao seu estado mental.

Para o cristão é sempre difícil notar quando alguém está agindo com autocomiseração ou não. O amor bíblico não permite fazer acepção de ninguém. Entretanto, é preciso entender que autocomiseração não é sinônimo de humildade. Muitas vezes, o indivíduo que sofre de ansiedade acaba relatando sua condição apenas com o objetivo de ser visto como alguém digno de pena (embora não queira ser ajudado), e não contrito ou reconhecedor da sua miserabilidade. O cristão precisa ter o discernimento para identificar quando está diante de um indivíduo, um irmão na fé, que sofre de ansiedade, não obstante esse irmão esteja agindo com autocomiseração em vez de humildade para reconhecer que precisa de ajuda na luta contra as suas crises emocionais.

A Bíblia nos orienta a suportar-nos uns aos outros – “é melhor dois do que um, pois se um cair, o outro pode levantá-lo.”. No entanto, quando o indivíduo que sofre de ansiedade não admite sua condição, o suportar torna-se uma empreitada ainda mais difícil. É como o viciado em drogas da família que diz poder parar a qualquer momento, mas nunca chega esse momento e tampouco reconhece o seu vício. O amor bíblico não é para ser conivente ou complacente com o pecado, a falha e os equívocos do irmão, mas sim para ser confrontador e exortativo quando se faz necessário. Muitas vezes, o indivíduo que sofre de ansiedade já se posiciona em autodefesa contra qualquer um que levante o tema da superação da ansiedade, e, assim, ele acaba procurando respostas, das mais mirabolantes, para justificar a sua atitude passiva frente à sua condição ansiosa. Expressões como “Você não entende o que é a ansiedade” ou “Quando você passar por ela, aí você pode falar dela” são as mais comuns. Mas, novamente, agir assim é se esquivar do problema e não querer sair dele.

A energia despendida pelo indivíduo que sofre de ansiedade seria mais bem empreendida se ele a utilizasse para perseverar na luta contra a sua condição. Muitas vezes, ele prefere criar todo o tipo de argumento para justificar a acomodação ao seu distúrbio do que se submeter aos conselhos ou à ajuda que outras pessoas lhe oferecem. E, conquanto ele aceite a princípio tal ajuda, a autodefesa uma vez ou outra surge quando ele opta por atentar a uma palavra ou expressão dita do que ao todo apresentado. Tudo isso, sim, sabemos que é fruto do desequilíbrio emocional que o acometeu, por isso é peremptoriamente necessário que o indivíduo procure ser lembrado de quem ele é enquanto imagem de Deus. Tendo em vista que o indivíduo acabou assimilando essa condição de ansiedade para si mesmo, tornando quase que inerente ao seu ser, somente quando substituímos essa condição assimilada por Aquilo que é de fato o importante e vital para o ser humano é que o indivíduo passará a ter uma vida longe da ansiedade, conquanto por ainda estar neste mundo possa ser acometido em um ou outro momento por um pensamento ansioso ou planejamento imprudente.

Timothy Keller diz que os ídolos falsos que se instalam no nosso coração só podem ser sobrepujados com a instalação de Algo maior do que eles mesmos. As preocupações psicológicas que temos podem acabar se transformando em ídolos do nosso viver. Para superar isso, somente quando nos apropriamos de Jesus como nosso Consolador, Pastor e Senhor da nossa vida é que seremos libertados desses ídolos que acabam causando em nós ansiedades, crises e transtornos. Enfatizo novamente que estar ansioso não é falta de fé, mas sim um desvirtuamento dela, e infelizmente pode acabar gerando idolatria caso passamos a nos ver meramente como alguém cuja ansiedade faz parte da nossa constituição humana e identitária.

Aos irmãos de fé que sofrem desse desequilíbrio emocional, saibam que podem contar sempre com um ombro amigo para lhes confortar e consolar por meio da Palavra, mas não esperem ouvir aquilo que querem ouvir, e sim o que precisam para continuar na sua luta contra a ansiedade e quiçá superá-la. O primeiro passo é sempre reconhecer a nossa mazela e que precisamos da ajuda do Alto. Choraremos quando for preciso chorar, mas nos alegraremos ao sermos lembrados de que a Esperança que precisamos para lutar contra tais emoções tóxicas se encarnou, morreu por nós e ressuscitou. E que essa Esperança também lutou contra e venceu as aflições do mundo. Afinal de contas, somos servos do Deus Altíssimo, preparados para combater o bom combate, concluir a carreira, sempre guardando a fé que Ele nos deu, e, no final, a coroa que herdaremos suplantará qualquer cruz (sofrimento, adversidade e luta) que aqui passarmos. Em suma: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.” (1 Pedro 5.7) e, “Mas eu, quando estiver com medo, confiarei em ti.” (Salmos 56.3).

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Bajulação não é sinônimo de amor


Na igreja (assembleia) há pessoas dos mais variados tipos: tímidos, corajosos, ouvintes, faladores, atuantes, perseverantes, acomodados etc. Podemos não perceber, mas volta e meia nos defrontamos com aquele que pode causar um grande dano ao serviço cristão. Refiro-me ao bajulador.

O bajulador, muitas vezes, age de forma sutil, não apenas por meros elogios, mas através de comportamentos aparentemente piedosos e motivacionais. Isso não quer dizer que não devamos elogiar alguém ou sermos solícitos e motivadores aos nossos irmãos. Pelo contrário, a mente verdadeiramente cristã (que não se preocupa com reciprocidade ou em granjear status no círculo eclesiástico) consegue elogiar e motivar as pessoas de uma forma que sempre aponte para Aquele que a redimiu.

Como mencionado anteriormente, o objetivo principal do bajulador é adquirir status (mais até do que receber tratamento recíproco). Sendo assim, ele procurará direcionar todos os seus atos e "benevolências" àqueles que de uma certa forma possuem alguma "relevância" na igreja: na maioria das vezes, pastores e líderes; em casos excepcionais, determinadas pessoas que possuem certa amizade com outros que o bajulador considera como "relevantes".

Mesmo sabendo que na igreja não há hierarquia vertical, e sim horizontal, já que todos somos membros de um mesmo Corpo, o bajulador ainda assim acaba interpretando as posições exercidas por essas pessoas (pastores e líderes) como algo preponderantemente de alta classe, por isso ele age procurando se achegar e se envolver a tais pessoas por meio de comportamentos cada vez mais lisonjeiros, conquanto aqueles que são o alvo de seu intento muitas vezes não percebam.

O fato de nós geralmente não percebermos que estamos sendo vítimas do bajulador é que nos falta a prudência devida para discernirmos tais atitudes. Encantamo-nos muito facilmente quando nos tratam bem - pensamos logo que aquela pessoa está exercendo o altruísmo cristão, o que é o esperado de qualquer um que se professe cristão, no entanto, temos que ser relembrados que, mesmo dentro da igreja (assembleia), há lobos vestidos de peles de ovelhas e que podem confundir nossas mentes.

Um exemplo de como devemos ser prudentes a fim de não nos tornarmos vítimas do bajulador/adulador vem do próprio Jesus. Na passagem de Mateus 22.15-22, que trata sobre a questão do pagamento de tributo (uma das passagens mais conhecidas e citadas no mundo), os versículos 16 e 17 acabam passando despercebidos em nossa leitura, e é justamente onde se encontra um bom ensino sobre o fato de sermos prudentes e atentos quanto à bajulação. Os fariseus sempre engendraram táticas para tentar pegar Jesus em alguma falha. Dessa vez, eles se juntaram com outro grupo religioso (os herodianos) para atingir seu intento. Pois bem, alguns discípulos desses dois grupos (provalmente os mais destacados) se juntaram para enfim surpreender Jesus. Curiosamente, esses discípulos não chegaram mostrando explicitamente seu objetivo. Pelo contrário, eles se aproximaram de Jesus elogiando o ensino dEle ("ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade..."), bem como o próprio caráter de Jesus ("és verdadeiro...não olhas a aparência dos homens"). Mas todos esses elogios eram falsos, já que não correspondiam ao que de fato eles pensavam sobre Jesus.

O bajulador dentro da igreja age de forma semelhante. Para conquistar o status que tanto anseia, ele consegue expressar palavras que não correspondem de fato ao que pensa. O intento dele é unicamente chegar ao posto tão desejado, pois com isso (ele pensa) as pessoas poderão valorizá-lo mais, respeitá-lo mais e, quem sabe, bajulá-lo mais. Sua conduta para com líderes e pastores é totalmente diferente da que ele tem para com os demais membros. Não é que ele também não bajule membros "comuns" da igreja. Em alguns momentos ele se mostra solícito e adulador a seus irmãos de fé, entretanto, se um dia ele puder escolher entre ajudar, por exemplo, o irmão "comum" ou ajudar o líder/pastor, conquanto a necessidade do irmão "comum" seja mais gritante do que a do irmão líder/pastor, o bajulador inevitavelmente escolherá ajudar a quem (conforme ele pensa) pode trazer mais reconhecimento e status, que, nesse caso, será ajudar o líder/pastor. Por alguma forma equivocada de ler a Bíblia ou de ter compreendido erradamente a mensagem do Evangelho e do que significa o serviço, o bajulador crê piamente que se posicionar mais perto dos que possuem cargos de liderança na igreja ou que tenham visibilidade, consequentemente, fará ele ser mais notado como alguém de caráter ilibado ou piedoso.

Continuando o relato de Mateus 22, o texto nos informa que, assim que aqueles discípulos interpelaram Jesus e fizeram a pergunta, o Messias identificou logo de cara que a postura elogiosa deles, antes de fazerem a pergunta, escondia uma malícia por trás. O que eles disseram sobre o Mestre era apenas para esconder a arapuca em forma de pergunta. O texto nos diz que Jesus conheceu a malícia deles em forma de bajulação. E deu a resposta à altura do que merecia a pergunta. Ou seja, Jesus identificou a conduta bajuladora daqueles discípulos e não passou a mão pela cabeça deles.

Na nossa vida cristã devemos ser perspicazes em identificar qualquer tipo de caráter desvirtuante de uma vida que se diz redimida por Cristo. Não é que tenhamos que ser céticos a qualquer tipo de elogio que nos dão, ou tampouco tornarmo-nos fiscais da conduta do outro, mas temos que ser menos românticos nas nossas relações e mais prudentes na maneira como recebemos determinadas pessoas, principalmente se exercemos cargos de liderança. O porquê disso não é por estarmos inseguros quanto a sermos destituídos do cargo e nos substituírem por aquele que nos bajulava. Antes, a importância de termos prudência é que isso também faz parte da preocupação que devemos ter com relação à saúde espiritual dos membros que fazem parte do Corpo.

Um bajulador dentro da igreja tem a capacidade de deturpar, como um toque de Midas às avessas, o significado da expressão "acepção de pessoas" de uma forma que beneficie a ele mesmo. Dificilmente você verá o bajulador praticando o básico de qualquer relacionamento interpessoal cristão, que é a exortação, admoestação ou reprimenda a algum irmão faltoso. Pelo contrário, para ele, fazer isso é denegrir a sua própria imagem diante das pessoas, tendo em vista que (conforme ele pensa) tais condutas não trazem a ele visibilidade positiva diante dos outros.

Para o bajulador, o mais importante será a quantidade de vezes que ele elogia alguém (conforme ele pensa) da alta classe eclesiástica ou o quanto de serviço aparentemente piedoso ele exerce na companhia daqueles a fim de granjear ainda mais visibilidade e reconhecimento. Qualidade é uma palavra com que ele pouco se importa, ainda mais se se referir à sua própria condição espiritual.

Sendo assim, precaver-se contra bajuladores também é um assunto que está na Bíblia, e com exemplos de como se comportar diante deles vindos do próprio Salvador e Redentor Jesus. Qualquer bajulador pode um dia ser curado de sua bajulação, e, enfim, substituir sua bajulação a pessoas pela adoração unicamente a Deus. Podemos não saber logo de cara quem se porta como um adulador, mas se tivermos verdadeiramente a mente de Cristo saberemos identificá-lo por causa de sua conduta. Por isso temos que ser "simples como as pombas, e prudentes como as serpentes".