terça-feira, 22 de setembro de 2020

Você se torna aquilo que adora

É curioso como nossos corações podem ser facilmente cooptados por ídolos dos mais variados. Mesmo aquilo que achamos não ser perigoso ou causar dano algum pode se transformar mais cedo ou mais tarde num pequeno totem. Quando menos se espera, distanciamo-nos do Caminho que conduz para Deus e passamos a perseguir tolas miragens como se fossem um cálice sagrado.

Se já não bastasse toda essa degeneração espiritual, surpreende-nos quando vemos pessoas que defendem com unhas e dentes a permanência desses ídolos em seus corações, ainda que ineptamente. E aí pode ser qualquer coisa, desde o emprego, dinheiro, filhos, cônjuge, serviço na igreja etc., podendo descambar na torcida pelo time de futebol e, claro, política.

Curiosamente, por mais que o indivíduo possua todas as atitudes que configuram idolatria, ainda assim ele não se vê como idólatra. É por isso, por exemplo, que por mais que exortemos um irmão dizendo que ele está se excedendo na defesa de alguma ideologia, partido ou político, ainda assim ele não reconhecerá que se encontra em idolatria.

Perceba que não é errado nos indignar com o que consideramos injusto ou falsa acusação. A questão é o que pauta a nossa reação frente a tais injustiças. A nossa reatividade é baseada nos conselhos de jornalistas, influenciadores e comentaristas pagãos (ainda que se identifiquem como cristãos) ou é pautada pela vida de oração, leitura da Bíblia e esperança em Deus? A resposta que dermos revelará por quem somos guiados e a quem adoramos.

Não é à toa que o salmista diz que tanto os que produzem ídolos como os que confiam neles tornam-se semelhantes ao objeto idolatrado (cf. Sl 115). Ou seja, nossas atitudes, comportamentos e posturas passam a ser ditadas pelo que adoramos, pelo que idolatramos, enfim, pelo que ocupa o nosso coração. Para aquele que se diz cristão e se encontra nessa situação, o só saber disso já deveria ser motivo para contrição.

No fundo, o que nos move (ainda que irrefletidamente) quando alimentamos tal idolatria é também o fato de querermos ser idolatrados. Quando enfatizamos para nossos filhos, por exemplo, que eles devem escolher uma profissão que os faça ganhar muito dinheiro e terem uma "boa" vida, o que estamos querendo de fato é que eles reconheçam e, consequentemente, adorem a nós pela vida que propiciamos a eles (seja por dá-los tudo do bom e do melhor ou por sacrificarmo-nos para que eles atinjam os objetivos pretendidos), e não Deus, como o verdadeiro provedor da família.

Toda idolatria, no final, se caracteriza por roubar a glória de Deus. Como já dito anteriormente, mesmo as coisas que consideramos menos importante ou de menor valor podem vir a se transformar num ídolo, basta que, tal como fazemos com um animal de estimação, o alimentemos, o protejamos e o criemos para que ele se torne o reflexo daquilo que somos.

Aquilo que ocupa o nosso coração dirá o que, de fato, adoramos, e vice-versa. Por isso é necessário diariamente que substituamos qualquer resquício de idolatria a deuses falsos pela verdadeira adoração ao "Amado na nossa alma".

domingo, 6 de setembro de 2020

Como a masculinidade bíblica faz falta atualmente!

De uns tempos pra cá, demonstrar masculinidade tem se tornado algo considerado vergonhoso e ofensivo, inclusive pelos próprios homens. Se na vida longe de Deus isso tem levado a um caos social, na vida perto de Deus isso tem causado sérios problemas de identidade.

Muito dos equívocos que os homens cristãos exprimem perante a igreja devem-se a uma incompreensão do papel e relevância de si mesmos, como imagem de Cristo, tanto no círculo eclesiástico como para além dos muros da comunhão do corpo de Cristo.

O comportamento do homem bíblico deveria ser pautado por responsabilidade, fidelidade a Deus e polidez social, sabendo que tais virtudes são construídas ao longo da caminhada cristã. Entretanto, o que mais se vê é egocentrismo, pedantismo e preciosismo.

A masculinidade bíblica dá lugar à infantilidade pagã, levando consigo a um estado onde quem deveria estar num processo de amadurecimento dá mostras de ser apenas um adulto mimado, exibindo comportamentos que mais giram em torno de um Acabe do que de um Josué.

A forma como nos dirigimos ao outro revela o que está conduzindo os nossos corações. Se somos guiados por desejos de grandeza ou notoriedade, é certo que dificilmente toleraremos qualquer dano cometido contra nós, mesmo que vise o nosso bem diante de Deus e do corpo de Cristo. 

A masculinidade bíblica tem sido deixada de ser perseguida por nós, homens cristãos, pois preferimos ser tratados mais com mimos e bajulações do que mandamentos e bem-aventuranças. Isso acaba deteriorando as relações e, consequentemente, deturpando o conceito do que é o verdadeiro crescimento espiritual.

Se por um lado nós entoamos cânticos à Jesus, dizemos servi-Lo e O consideramos como Salvador de nossas vidas, por outro lado, nós demonstramos que não pretendemos tomá-Lo como exemplo do que é ser um homem de verdade. Com isso, caímos no engodo de adorar a Jesus e querer ser reconhecido por ele, mas sem a necessidade de ser formado em nós a Sua imagem.

O homem cristão precisa entender que toda atitude sua perante à própria igreja, no trabalho, na família, na escola ou universidade, entre amigos, é para mostrar ao mundo qual o padrão bíblico de masculinidade requerido por Deus.

Nem sempre iremos mostrar eficazmente esse padrão, e quando isso acontecer, conquanto possamos nos desmotivar ou desanimar, que possamos ter resiliência vinda do próprio Espírito de Deus para continuarmos buscando exibir tal padrão a fim de o nosso Salvador receber a glória devida.

Frise-se que possuir masculinidade bíblica em momento algum é "querer ser mais homem" do que o irmão, o que seria interpretado como demonstração de macheza, mas sim querer possuir os aspectos de respeitabilidade, sabedoria e responsabilidade.

Tais aspectos são formados em nós à medida que reconhecemos a nossa limitação, fraqueza e dependência do Senhor. Isso não anula nossos temperamentos e personalidades, pelo contrário, estes se tornam subservientes àqueles.

Talvez o que haja em alguns homens cristãos seja menos masculinidade bíblica do que se espera, o que não os torna menos homens. Em outros, talvez haja demonstrações de virilidade mais intensas, o que também não os torna mais homens. O que se espera de alguém que busca um padrão verdadeiro de masculinidade bíblica é o meio termo entre esses dois lados.

Quando tomarmos como referência o Homem Salvador a fim de nos tornarmos homens bíblicos, então dificilmente continuaremos nos vitimizando diante das situações que não saem como desejadas, assim como não mais procuraremos ser bajulados como forma de aceitação social.

Quando a masculinidade bíblica de fato for compreendida, almejada e frutificar em nossas vidas, aí sim teremos superado o complexo de homens adultos mimados. Até lá, a síndrome de Peter Pan será algo que continuaremos a batalhar contra, conviver com e tolerar naqueles que insistem em ser tratados como meninos que pensam como meninos e agem como meninos (cf. 1Co 13.11).