domingo, 29 de setembro de 2019

Teologia, sim, também é para crianças

Há um certo pensamento no meio cristão que parece ser "contrário" ao ensino da teologia às crianças - parece atingir pais especificamente. Coloco entre aspas a palavra contrário pois não é que os pais achem que a teologia nunca deva ser ensinada, mas que eles demonstram não levar tão a sério o ensino dela em idades tão precoce. É como se a teologia fosse vista como um tipo de sociedade secreta, onde só a partir de determinadas idades o indivíduo poderá ser apresentado a ela e terá o senso correto para ser ensinado. Porém, tal pensamento não é bíblico.

Alguns pais podem achar que ensinar a Bíblia é diferente de ensinar teologia, no entanto, ao se executar o primeiro, deve-se possuir alguns conceitos por trás do que é ensinado, a fim de facilitar o entendimento das crianças. O pai que lê com seu filho João 3.16 deve ter em mente que ali naquele simples texto contém doutrinas teológicas como soteriologia e escatologia. Não quer dizer que a criança tenha que saber de pronto o que dizem as diversas correntes teológicas, mas sim que o básico da teologia deve permear os estudos com seus pais.  

Tal como o ensino bíblico, o ensino teológico também está englobado na instrução de Paulo a Timóteo quando ele diz: "Toda escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra." (2 Tm 3.16,17). Como os pais poderão exigir dos filhos conduta cristã quando eles forem adolescentes e jovens se quando eram infantes não tiveram nenhum tipo de instrução e ensino bíblico-teológico por parte dos pais? Eis uma prece difícil de ser atendida.

Algo que acomete muitos pais cristãos no que diz respeito a esse cuidado para com os filhos é o fato de eles terceirizarem esse tipo de educação cristã-teológica. Muitos pais não exercem seus papeis de líderes de seus filhos no lar, não estudam com eles a Bíblia, muitos sequer dão o próprio exemplo em meditar e ler as Escrituras, e acabam confiando seus filhos à escola bíblica dominical. O problema é que os filhos vão para essas aulas muitas vezes sem saber o básico da vida cristã e, se lá tiver alguém comprometido em ensiná-los, eles até podem adquirir alguma noção, mas se for apenas alguém preocupado em entretê-los, então eles voltam para casa mais vazios do que quando chegaram na igreja.

Quando pais se comprometem com a educação teológica de seus filhos, proporcionalmente a cada idade, eles estarão fazendo um favor tanto aos filhos como para a sociedade em que vivem. Lembrem-se que um dos maiores exemplos de educação teológica vem do próprio Salvador. Jesus Cristo possuía doze anos quando estava no templo discutindo com os mestres da lei, e os próprios se impressionavam com sua inteligência da Escritura. Hoje, mesmo dentro do seio cristão, adolescentes de doze anos insistem em agir como bebês mimados, não se interessam em ir aos cultos, tampouco em estudar a Bíblia, e muitas vezes com o consentimento dos próprios pais. Se fôssemos a fundo para saber o porquê, é capaz de encontrarmos justamente essa omissão de não tê-los ensinado teologia quando eram infantes.

Teologia não salva ninguém. O que ela faz é te capacitar para compreender melhor a história, a sociedade, e principalmente, o que a Bíblia instrui. 

William Lane Craig, na introdução do seu livro Em guarda, resume bem como deveria ser a preocupação dos pais com o ensino teológico para seus filhos: "Os pais devem fazer mais do que apenas levar seus filhos à igreja e ler histórias da Bíblia para eles. Pais e mães precisam ser bem treinados em apologética para que sejam capazes de explicar aos filhos, desde pequenos e cada vez com maior profundidade, por que cremos naquilo que cremos. Honestamente falando, acho difícil de entender como casais cristãos, nesses tempos em que vivemos, podem correr o risco de trazer filhos ao mundo sem terem recebido um bom treinamento em apologética como parte de seu ofício de pais.".

É isso. Os pais deveriam ter uma preocupação maior tanto com a alma de seus filhos como com a integridade e postura deles face aos desafios dos tempos atuais. A teologia não substitui a Bíblia; antes, complementa e expande o que Deus nos deixou escrito. Ela sempre terá como base aquilo que a Bíblia instrui. Achar que as crianças não podem compreender a teologia da cruz, a teologia do reino, a teologia da salvação, simplesmente por supor que elas não possuem idade suficiente para isso é quase como uma negação do poder e da soberania de Deus na vida delas.

O interessante nesse pretenso temor dos pais por ensinar teologia aos seus filhos é que eles acham mais fácil a criança aprender matemática, geografia, ciências, física, química, robótica, e todas aquelas disciplinas escolares, mas não teologia. Talvez a preocupação com o futuro profissional dos filhos acabe por ofuscar a real importância em alimentar suas almas com aquilo que é bíblico e teológico. E isso pode ser um baita problema quando imaginamos no que eles podem se transformar caso não estejam firmados na rocha correta.

Que o estudo sincero e predisposto da Bíblia possa conduzir os pais à teologia. Que os pais não se enganem achando que só o pastorado ou as lideranças são capazes de instruir seus filhos teologicamente. Que por meio de exemplos como os de Samuel, Daniel, Davi e Jesus, os pais possam compreender a importância de ensinar teologia aos seus filhos. Que os pais possam, enfim, saber que nenhum trabalho no Senhor é em vão (1 Co 15.58), principalmente ensinar teologia aos seus filhos desde o momento em que eles pronunciam as primeiras palavras.

domingo, 15 de setembro de 2019

Não seja um "adultescente" cristão

Nem sempre o cristianismo que dizemos professar corresponde à maturidade espiritual que dizemos possuir. Com isso, não é surpresa nenhuma vermos adultos cristãos se comportando mais como adolescentes ou crianças de colo do que como verdadeiros guerreiros do estandarte cristão.

Paulo em 1 Coríntios 13.11 revela que quando ele "era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança; mas, assim que {chegou} à idade adulta, {acabou} com as coisas de criança." O fato é que tudo na vida do ser humano tem um tempo e um momento. Paulo teve o tempo, antes de ser integrado a Cristo, de agir como quem não tem pastor, como quem pensa que tudo é brincadeira e fanfarras. Mas, a partir do momento em que o Evangelho do Reino lhe concede vida abundante, enfim, ele começa a crescer, amadurecer, e parar com as coisas de criança, fossem elas pensamentos ou atitudes infantis, raciocínios ou conversas imaturas.

De fato, a vida do cristão possui essas fases de imaturidade, onde ele ainda tem que beber leite em vez de comer alimento sólido. Porém, como qualquer processo de crescimento humano, a vida espiritual também requer que o cristão não se contente unicamente em beber aquele leite espiritual. E isso faz toda diferença se quisermos ser testemunhas de Jesus Cristo. Cristãos que já possuem anos de conversão, mas que ainda agem como se fossem neófitos, demonstram possuir uma falha no que diz respeito à sua própria caminhada cristã. Muitos acabam não percebendo, e findam por se envolverem em determinadas atividades eclesiásticas sem possuírem o mínimo exigido biblicamente para tal (cf. 1 Timóteo 3). O resultado, mais dia menos dia, não será dos melhores.

A despeito dos vários textos bíblicos que conclamam o cristão a progredir no amadurecimento de sua fé em Cristo e de sua caminhada cristã (cf. Salmo 90.12; Colossenses 4.6; Efésios 5.15; 1 Tessalonicenses 4.1; Filipenses 4.14; 1 Coríntios 2.16; Tiago 1.5; 2 Pedro 3.18 etc.), ainda assim muitos dos adultos cristãos optam por viver uma vida cristã de eterno divertimento, entretenimento e licenciosidade. Com isso, acabam sendo o exemplo negativo de modelo cristão para seus filhos (se assim possuem), colegas de trabalho, vizinhos ou familiares. 

O padrão a ser perseguido não é o dos pais da igreja, dos teólogos reformados, dos puritanos ou dos pregadores da velha escola do século passado, conquanto muitos deles sejam exemplos de santidade e maturidade cristã, mas sim Jesus Cristo, esse sim que é o modelo perfeito para o amadurecimento do cristão. Entretanto, ainda que os adultos cristãos afirmem segui-lo e professar seus mandamentos, na realidade o que pode ser visto é um ateísmo prático, onde Cristo pouco (ou nada) faz parte das diversões, estudos bíblicos (individual ou em grupo) e das conversas deles.

Ao cristão não lhe é proibido rir ou contar piadas, desde que isso não se torne o seu ideal de vida. O problema surge a partir do momento em que as conversas, reuniões e discussões (aparentemente bíblicas) são pautadas unicamente por querer transformá-las em motivo de piada ou chacota gospel. O adulto cristão que sente alegria em ser o bobo da corte de sua turma demonstra tanto imaturidade como um tipo de complexo de Peter Pan, querendo agir e ser visto como uma eterna criança. Só que agir assim não é o que a Bíblia orienta. 

Que os adultos cristãos possam amadurecer na caminhada cristã, não entristecendo o Espírito Santo que neles habita (se de fato eles são cristãos).