D. A. Carson em seu livo A Intolerância da Tolerância expõe como o abandono, cada vez maior, do antigo modelo de tolerância - em que ideias e posicionamentos (ideológicos, religiosos, culturais etc.) podiam ser criticados ou se colocar contra eles, sem que o crítico sofresse rejeição ou censura - tem dado lugar a uma "nova" tolerância, em que não se pode mais manifestar o desacordo diante de qualquer tipo de assunto, principalmente se envolver questões de ordem sexual, religiosa e cultural. Em nome da nova tolerância, não se tolera quem é adepto da antiga tolerância.
E diante de tal clima de permissividade para se fazer tudo, desde que não haja quem lhe confronte ou emita um pensamento contrário, é que a sociedade tem caminhado para a sua desordem. Se todos podem fazer aquilo que lhe dão na telha, sem a necessidade de alguém se posicionar contra, então não existe mais a necessidade de um valor moral. Quando não se tolera que sejam emitidas críticas a determinados estilos de vida ou de conduta, com a desculpa de que isso pode ferir as emoções daquele que possui tal estilo de vida ou conduta, abre-se um precedente perigoso para que não haja críticas a qualquer coisa (p. ex., o ladrão não pode ser criticado por seu ato, já que fez isso porque não possui emprego).
É interessante como esse clima de "nova" tolerância atinge qualquer setor de nossas vidas. Citando especificamente o campo político, vemos que muitas pessoas utilizam o artifício do "não me julgue, me aceite" para impor suas próprias visões e concepções, sem deixar espaço para que outros lhes mostrem (expondo ideias antagônicas) de que elas estão completamente equivocadas. Não. Nesse campo ideológico, não há espaço para debates e a discussão de posicionamentos contrários. Ou se diz que é a favor ou se é tachado como inimigo mortal - e daí pode surgir todo tipo de adjetivo falacioso a quem não concorde (coisas como fascista, homofóbico, racista, misógino etc.), mesmo que não se abra espaço para que essa visão diferente seja exposta.
No ambiente acadêmico, também é possível ver esse clima da "nova" tolerância, onde são permitidos e estimulados apenas eventos mais ligados a pautas de esquerda, enquanto que o menor vislumbre a eventos conservadores ou que se coloquem no espectro político à direita são rechaçados e, se possível, banidos da universidade. Casos como a exposição de filmes em que constam personalidades de direita ou críticos ferrenhos de movimentos de esquerda já vieram à tona (p. ex., o filme O Jardim das Aflições na Universidade Federal de Pernambuco, em que alunos responsáveis pelo evento foram intimidados por militantes de esquerda que reivindicavam o banimento do filme e de todos que o apoiassem).
Outro caso em que essa "nova" tolerância foi colocada em prática foi o caso de um confeiteiro nos Estados Unidos que havia se recusado a preparar um bolo para um casamento homossexual, devido o evento ser contrário à sua crença religiosa (cristã). O confeiteiro ainda se prontificou a indicar outro profissional para os nubentes, mas eles alegaram preconceito e o caso foi parar nos tribunais. Para os nubentes, o confeiteiro se recusar a preparar um bolo (sendo que o dano maior é para o próprio confeiteiro que deixaria de ganhar dinheiro) era uma prova clara de intolerância - mas também não seria "intolerância" não respeitar as crenças e o posicionamento do confeiteiro e de sua empresa? As últimas notícias indicavam que o tribunal deu parecer favorável ao confeiteiro, respeitando assim o princípio americano de não ferir a liberdade de expressão.
Nas redes sociais, volta e meia surge alguém com esse tipo de "tolerância", em que a pessoa publica tudo aquilo que vem à sua mente, sem nenhum filtro ou ponderação, mas quando vê alguma publicação que não lhe agrada (seja por conta de suas posições políticas, religiosas ou culturais) acaba alegando desrespeito, por parte daquele que publicou, ou afronta. A "nova" tolerância só tolera aquilo que coaduna com suas próprias concepções, e esses "novos tolerantes" sempre se mostram verdadeiros tiranos quando são expostos a pensamentos contrários ou divergentes.
A formação de uma sociedade equilibrada passa por tolerar visões contrárias às suas, sem necessariamente obrigar as pessoas a aceitar suas ideias e não exigir que as delas não sejam expressas.