Quando se estuda economia, nos é apresentado um conceito chamado vantagem comparativa, que nada mais é do que a escolha por realizar trocas comerciais - possibilitando menos perda de tempo na produção de certos bens de consumo - do que optar por produzir tudo em seu próprio território. De forma prática, se um agricultor A planta laranjas e melancias em sua terra, enquanto outro agricultor B produz queijo, laranjas e melancias, mas preferiria se dedicar apenas à produção de queijo, já que é o que sabe fazer melhor, este agricultor B possui uma vantagem em comparação ao agricultor A, e então pode optar por, em vez de continuar plantando laranjas e melancias, comprar de A. Tal atitude redundará na contenção de gastos (desnecessários) que o produtor B terá se dedicar-se apenas à sua produção de queijo. O produtor B poderia também comercializar o queijo com o produtor A - caso ele estivesse interessado em comprar -, já que tal alimento não faz parte de sua produção. E assim temos o comércio entre duas pessoas.
Isso é o que acontece quando dois países assinam acordos e tratados de comercialização de produtos importantes para o desenvolvimento de cada um. Ainda que entre eles, um possa ser capaz de produzir todos os produtos (chamemo-no de X), torna-se mais vantajoso dedicar-se à produção de um bem em específico para comercializá-lo com países que não possuem tanta facilidade em produzi-lo (chamemo-nos de Y). Como em qualquer tipo de acordo não existe apenas um lado que sai ganhando, é necessário que o país X "invista" no país Y a quem irá vender, e ele faz isso comprando produtos que são os únicos que este pode produzir (por mais que ele - X - produza esses mesmos itens, entretanto o ganho com a venda do produto específico é mais compensatória do que a compra do produto básico).
A tendência é que países que possuem destaque na produção de itens específicos (p. ex., a Coreia do Sul e sua indústria de tecnologia), mas que não possuem áreas para produção de itens mais básicos de consumo (como alimentos, em geral), entre em relação com países que o possuem, causando um benefício mútuo entre as duas nações. Essa é a maravilha da globalização: o foco no crescimento e desenvolvimento econômico apoiado na cooperação comercial.
Essas relações comerciais é o que fazem hoje você estar vendo esse texto com o seu computador ou celular. O Brasil não possui uma cadeia de produção de cada item do computador ou celular (restringe-se mais a cadeia de montagem). Os componentes elétricos são fabricados em algum lugar da Ásia, que são exportados até desembarcar no Brasil. As baterias de lítio são produzidas em outra parte do mundo. O vidro da tela pode até ser produzido aqui, mas seus softwares são patenteados por outra empresa estrangeira. O que quero dizer é que torna-se dificílimo, hoje em dia, um país ser autossuficiente na produção de itens desde a concepção de cada parte que os compõem. É assim com qualquer produto, até mesmo um lápis. Milton Friedman traz uma boa reflexão sobre quão "complexo" é a produção de um lápis.
Quando países se fecham ao comércio, com a justificativa de aspirarem desenvolver a indústria nacional, eles estão cavando a sua própria sepultura de falência e derrocada econômica. Haja vista que estarão indo na contramão do verdadeiro desenvolvimento. Quanto mais parceiros comerciais um país tiver, mais possibilidades haverá para que novas indústrias sejam abertas - o que gera emprego e mais renda aos trabalhadores - de forma a propiciar mais exportação de produtos e, consequentemente, mais crescimento econômico. Lembre-se: em verdadeiros acordos de livre comércio, todos saem ganhando - o importador e o exportador.
É dessas relações que nascem os famosos blocos econômicos - Tigres Asiáticos, Nafta, Mercosul, União Europeia, por exemplo. Entretanto, tais países nunca devem se restringir a comercializar com os seus vizinhos. Pelo contrário, devem sempre almejar expandir suas fronteiras mercantis, a ponto de buscarem se tornar cada vez mais desenvolvidos comercialmente e economicamente. O Chile, por exemplo, preferiu ser livre para realizar vários acordos com países da Europa do que se vincular ao grupo sul-americano - o que tem se mostrado de grande expertise.
Aqueles que advogam por mais protecionismo e nacional-desenvolvimentismo, à parte de relações internacionais, estão flertando com os mesmos erros que levaram à derrocada da Alemanha nazista, da União Soviética e Coreia do Norte. Se um país quer se desenvolver economicamente, é preciso que haja menos barreiras comerciais e mais valorização ao livre comércio entre as nações. Por que perder tempo produzindo algo ordinário quando se poderia comprá-lo de outro lugar com uma qualidade bem melhor? E por que não se dedicar a produzir algo de boa qualidade para ser vendido a quem demonstra tanto interesse e está disposto a pagar o que vale? Quando as pessoas começarem a se fazer essas perguntas, terão entendido o que é realizar comércio.